A ilha do Sal, em Cabo Verde, acolhe de 12 a 14 de Maio de 2025, uma conferência internacional sobre os cuidados infantis na África Ocidental. O evento, organizado pelo Governo cabo-verdiano e pelo Banco Mundial, reúne decisores políticos da África Ocidental e especialistas internacionais, no Hilton Cabo Verde Sal Resort.

Sob o tema “Fortalecer Estruturas de Cuidados Infantis na África Ocidental: Desafios e Oportunidades”, a conferência posiciona-se como uma plataforma crítica para as políticas públicas. O documento final, “Compromissos do Sal”, definirá as metas concretas para cada nação participante.

O objectivo é debater estratégias para expandir uma rede de creches e de jardins-de-infância acessíveis, de forma a combatendo a pobreza e ajudar as mulheres no mercado laboral. O encontro visa partilhar experiências entre países africanos e instituições mundiais, com o foco em modelos sustentáveis.

A conferência surge num contexto em que oito em cada dez crianças, sem acesso a cuidados infantis, vivem em países considerados problemáticos devido aos índices de pobreza extrema. Em África, a falta de infraestruturas força muitas mães a abandonar os empregos, perpetuando estes ciclos de pobreza.

O Banco Mundial destaca que a existência de creches é uma ferramenta vital para o desenvolvimento económico e igualdade de género. Cabo Verde, o anfitrião do evento, partilhará as suas experiências na inclusão social infantil.

O encontro terá como foco os modelos de financiamento sustentável e as políticas públicas para a primeira infância. Países como o Senegal, o Gana e a Nigéria apresentarão casos de sucesso e os desafios encontrados nos seus países. A directora-geral da Inclusão Social cabo-verdiana, Ednalva Cardoso, sublinha a urgência de se criarem soluções inclusivas trocando boas práticas regionais.

A crise é agravada pela escassez de dados sobre as necessidades específicas de crianças com deficiência. Os especialistas alertam que sem um forte investimento em cuidados infantis, África arrisca a perder uma geração. A conferência abordará também a formação de cuidadores e de parcerias público-privadas. O evento marca um passo crucial para a Agenda 2030 do desenvolvimento sustentável em África.

A falta de creches em África impede milhões de mulheres de entrarem no mercado de trabalho. Vários estudos indicam que cada dólar investido em cuidados infantis gera até 17 dólares em retorno económico. Países como Cabo Verde já implementaram programas piloto, mas a escala continental é insuficiente.

O Banco Mundial estima que apenas 20% das crianças africanas tenham acesso a serviços formais. A pandemia agravar a situação ao aumentar as desigualdades, devido ao encerramento dos espaços de cuidado informais, levando a que muitas famílias dependem das redes comunitárias, sobrecarregando avós e adolescentes.

A directora Ednalva Cardoso destacou a necessidade de serem criadas políticas intersectoriais. Saúde, educação e economia devem actuar em conjunto para garantir serviços acessíveis.

Na África Ocidental, a taxa de fertilidade elevada pressiona os sistemas já de si frágeis. Um relatório de 2020 revelou que as mães sem creches, trabalham em média 30% menos horas. A conferência do Sal vai propor soluções como vouchers sociais e incentivos fiscais a empresas. O objectivo é aliviar a carga doméstica das mulheres e impulsionar a produtividade.

O documento “Compromissos do Sal” vai dar prioridade à expansão de creches públicas em zonas rurais. Os governos africanos deverão destinar pelo menos 1% do PIB para cuidados infantis até 2030. As parcerias com ONGs e com as igrejas serão incentivadas para maximizar o alcance. Cabo Verde partilhará o seu modelo de centros comunitários multiusos, para análise dos outros países.

A formação de profissionais especializados em desenvolvimento infantil é outra meta. Países como a Costa do Marfim relataram ter obtido sucesso com programas de certificação de cuidadores. O Banco Mundial também propõe fundos regionais para subsidiar famílias de baixo rendimento. A ideia é replicar iniciativas como a do Gana que reduziu em 40% o abandono escolar precoce.

A tecnologia terá um papel central, com plataformas digitais para agendar vagas e seguir a qualidade. As experiências do Quénia com aplicativos móveis serão debatidas como casos de estudo. A conferência defenderá ainda a inclusão de crianças com deficiência em políticas nacionais. A criação de medidas legais para licenças parentais remuneradas também estarão na agenda.

A conferência do Sal posiciona-se como um marco na luta pelos cuidados infantis universais em África. As propostas apresentadas reflectem urgência em combater as desigualdades estruturais. Cabo Verde emerge como ponte entre o know-how internacional e as realidades locais.

O sucesso dependerá da implementação prática dos “Compromissos do Sal”. Governos, sector privado e sociedade civil devem agir em sintonia. Não nos podemos esquecer de que o futuro económico do continente está intimamente ligado ao bem-estar das suas crianças.