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Quarta-feira, Novembro 20, 2024

África: Carlos Lopes Defende Integridade Eleitoral

“Hoje em dia, o Estado tem de ser inteligente e capaz de criar as condições para que o sector privado, as empresas e os indivíduos possam criar os seus próprios empregos” – Carlos Lopes

África: Carlos Lopes Defende Integridade Eleitoral


A necessidade de garantir a integridade eleitoral em África foi defendida pelo economista guineense Carlos Lopes, uma das figuras mais influentes do pensamento africano contemporâneo com grande destaque no panorama académico africano, tendo ainda sublinhado, ser esta uma condição essencial para a estabilidade e o desenvolvimento político no continente.

Durante uma intervenção em Cabo Verde, onde participou de uma conferência sobre o legado de Amílcar Cabral e as narrativas do pan-africanismo, o intelectual abordou as questões políticas que afectam muitos países africanos, onde eleições disputadas e questionadas têm gerado descontentamento e instabilidade, sobretudo entre os mais jovens.

Segundo Carlos Lopes, a integridade eleitoral é “uma luta que vale a pena” pois é um dos pilares base para alcançar a estabilidade e o desenvolvimento político no continente pelo que deve ter prioridade sobre outros assuntos, para que possa responder às expectativas e à impaciência da juventude africana que, leal às suas causas, exige mudanças reais e urgentes.

 

Integridade Eleitoral em África


Para Carlos Lopes, a integridade eleitoral não é apenas uma questão de transparência, é uma necessidade urgente, tendo em conta a estrutura demográfica de África. O continente possui uma população jovem, com uma média de idade de apenas 19 anos, e esta realidade coloca pressões adicionais sobre os sistemas políticos africanos.

“É necessário repor, em todos os países africanos, uma capacidade para que o sistema eleitoral tenha integridade e não seja contestado”.

Afirmou Carlos Lopes, destacando que os jovens africanos desejam mudanças e têm razões legítimas para exigir transformações rápidas e visíveis. Este contexto é particularmente visível em Moçambique, onde o candidato Venâncio Mondlane e os seus apoiantes contestam os resultados das eleições gerais, levando a várias manifestações e paralisações no país.

Carlos Lopes vê estas acções como um reflexo de uma tendência mais ampla, presente em muitos países africanos, onde as eleições, em vez de fortalecerem a democracia, acabam por provocar tensões e confrontos. Carlos Lopes acredita que um sistema eleitoral robusto e confiável é o único caminho para garantir que os resultados reflictam a vontade do povo, sem espaço para dúvidas ou contestações.

 

Desafios Económicos


Além da integridade eleitoral, Carlos Lopes abordou a necessidade de enfrentar o problema do desemprego juvenil em África, um desafio agravado pela rápida urbanização e pelo crescimento populacional.

Com taxas elevadas de desemprego entre os jovens, o economista defende que o Estado deve desempenhar um papel facilitador, criando as condições necessárias para que o sector privado e os próprios indivíduos possam gerar empregos.

“Hoje em dia, o Estado tem de ser inteligente e capaz de criar as condições para que o sector privado, as empresas e os indivíduos possam criar os seus próprios empregos”, sugeriu.

Esta questão é vista por Carlos Lopes como essencial para responder ao descontentamento da juventude africana. Para o economista, a falta de emprego e oportunidades no continente aumenta a impaciência dos jovens e reforça a necessidade de respostas concretas por parte dos governos africanos.

Esta juventude, leal a figuras e causas, pode ser uma força transformadora, mas também pode trazer instabilidade se não encontrar alternativas para realizar as suas aspirações e projectos de vida.

 

As Dinâmicas Mundiais no Desenvolvimento Africano


Além dos desafios internos, Carlos Lopes abordou também as implicações das dinâmicas internacionais sobre África, nomeadamente a crescente influência da China e o papel dos Estados Unidos.

Para Carlos Lopes, a ajuda financeira dos EUA a África pode ser limitada, mas o interesse norte-americano no continente mantém-se centrado na luta contra o terrorismo e na contenção da influência chinesa.

“Essas duas características são comuns às várias administrações americanas e não vão mudar necessariamente na transição de um Presidente para outro”.

“O que pode mudar é, a retórica e o discurso, mas não necessariamente as preocupações fundamentais em relação a África”.

No entanto, o economista alerta que eventuais alterações nas tarifas comerciais e nas políticas de regulação económica mundial, como já foram anunciadas, poderão afectar negativamente os países africanos.

Estes, segundo ele, devem estar preparados para negociar com firmeza e adaptarem-se a estas mudanças, fortalecendo as suas economias e desenvolvendo parcerias estratégicas que respondam aos seus interesses.

Carlos Lopes sublinha que o desenvolvimento sustentável e o fortalecimento das economias internas devem ser prioridades para África, numa altura em que o panorama económico mundial é cada vez mais incerto.

 

O Pan-Africanismo de Amílcar Cabral


A conferência intitulada “Amílcar Cabral e a Mudança de Narrativas sobre o Pan-Africanismo”, organizada pela Fundação Amílcar Cabral, procura apresentar uma leitura contemporânea da contribuição de Amílcar Cabral para a África de hoje.

Carlos Lopes após participar na conferencia, falou aos jornalistas no final de um encontro com o Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves e avançou que a ideia é trazer uma contribuição do legado de Amílcar Cabral para as narrativas africanas e como, através dos seus ensinamentos, se pode verificar uma série de inovações na forma de interpretar o pan-africanismo.

A visão de Cabral, que defendia a luta pela dignidade e autonomia africanas, foi reinterpretada por Carlos Lopes como um chamamento à reestruturação e à integridade política e económica. Para Carlos Lopes, o pensamento de Amílcar Cabral oferece “estruturas críticas” essenciais para compreender e enfrentar os desafios que África enfrenta na actualidade.

Carlos Lopes destacou também que, embora o pan-africanismo tenha surgido como uma ideologia unificadora, a sua interpretação tem evoluído para abordar questões contemporâneas, como as mudanças climáticas e os direitos das mulheres.

Ele apontou que Amílcar Cabral já discutia, nos anos 50, temas como a regeneração de solos e o uso sustentável de recursos hídricos, tópicos que hoje formam parte central das políticas de sustentabilidade.

“E, portanto, tudo isso são temas que hoje em dia os técnicos que se ocupam de sustentabilidade consideram como extremamente pertinentes e Amílcar Cabral já falava deles nos anos 50”.

Frisou Carlos Lopes, referindo que estas são apenas algumas das muitas facetas de Amílcar Cabral.

 

Conclusão


Carlos Lopes, ao defender a integridade eleitoral e ao revisitar o legado de Amílcar Cabral, propõe uma África auto-suficiente e inovadora, comprometida com o desenvolvimento sustentável e a inclusão social.

Para ele, tanto a criação de um sistema político justo quanto o fortalecimento das economias locais, são fundamentais para que o continente prospere num panorama global de constantes mudanças. A mensagem de Carlos Lopes é clara: África deve reforçar os seus processos democráticos, inspirando-se em figuras como Amílcar Cabral para enfrentar os desafios do presente e do futuro.

 


O que pensas desta posição de Carlos Lopes em relação a África? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 

Imagem: © 2024 DR
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