3 C
Londres
Sexta-feira, Novembro 22, 2024

25 de Abril: 50 Anos De Liberdade Nos PALOP

Graças ao MFA e ao 25 de Abril, foram criadas as bases que levaram à independência das antigas províncias ultramarinas e, subsequentemente, à criação dos PALOP.

25 de Abril: 50 Anos De Liberdade Nos PALOP


O 25 de Abril é uma data de extrema importância para os países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), pois marca o fim do regime ditatorial em Portugal, conhecido como Estado Novo e o início de um processo de democratização e descolonização.

O 25 de Abril trouxe consigo importantes avanços em termo00s de direitos humanos, igualdade de género, educação e desenvolvimento económico. Hoje, comemoram-se 50 anos dessa data, pelo que devemos ter um momento de reflexão sobre os progressos alcançados pelos PALOP, desde a Revolução dos Cravos e sobre os desafios que ainda persistem.

Ao comemorarmos estes 50 anos do 25 de Abril, é importante celebrarmos as conquistas da democracia, liberdade e justiça social alcançadas desde 1974, mas apesar destas conquistas, ainda há ainda muitos desafios a enfrentar. A desigualdade social, a corrupção, o desemprego e as disparidades regionais continuam a ser problemas prementes tanto em Portugal como nos PALOP.

Além disso, a crise económica, os impactos da globalização e as mudanças climáticas representam desafios adicionais que requerem uma abordagem concertada e colaborativa entre todos. Como tal, os 50 anos do 25 de Abril devem ser vistos como uma oportunidade para renovar o compromisso com os valores democráticos, para fortalecer as instituições e para promover políticas que garantam o bem-estar de todos os cidadãos.

É também um momento para reafirmar os laços de solidariedade e cooperação entre Portugal e os PALOP, trabalhando juntos para enfrentar os desafios comuns e construir um futuro mais justo e sustentável para todos.

 

A Criação dos PALOP


A “Revolução dos Cravos” pôs fim à ditadura dando inicio à criação do que viria a ser conhecido por PALOP, pois sem esse momento histórico, a história da independência das “colónias portuguesas” poderia ter sido bem diferente.

A História da colonização portuguesa em África começou a escrever-se há perto de 600 anos com a conquista de Ceuta a 22 de Agosto de 1415 e terminou com a independência de Angola a 11 de Novembro de 1975.

A razão de Angola ter sido a última província ultramarina portuguesa a obter a independência, não foi um acaso, na realidade foi o fechar de um círculo, pois a história da “Revolução dos Cravos” ocorrida a 25 de Abril de 1974, começa-se a escrever com o início da guerra armada em África, mais precisamente em Angola a 4 de Fevereiro de 1961.

 

O princípio do fim


Poster de Agostinho Neto. Imagem: © casacomum.org / Documentos Dalila Mateus

Poster de Agostinho Neto. Imagem: © casacomum.org / Documentos Dalila Mateus

Portugal foi a primeira Superpotência Global e manteve o controle férreo das suas províncias ultramarinas, durante séculos. Até que um dia, no já longínquo ano de 1961, dá-se o início da revolução armada em Angola, com o ataque, efectuado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a 4 de Fevereiro, à prisão de São Paulo, em Luanda e a uma esquadra da polícia, onde foram mortos sete polícias.

Pouco tempo depois, no Norte de Angola, a União das Populações de Angola (UPA), que se dedicava sobretudo à guerrilha rural, desencadeou vários ataques contra a população. Angola foi assim, a primeira região ultramarina, onde se iniciou a luta armada organizada contra o domínio português.

Este movimento revolucionário em África, começa a ganhar reconhecimento internacional, quando sob os auspícios do rei Hassan II, foi realizada a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP).

Esta conferencia surge por iniciativa do MPLA, do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e da Liga de Goa, tendo-se reunido pela primeira vez em Casablanca (Marrocos), de 18 a 20 de Abril de 1961.

O seu objetivo da conferencia era o de “coordenar os esforços dos movimentos nacionalistas e estabelecer os meios efectivos para iniciar a luta contra o colonialismo português”.

Estimulados pelos eventos em África, em Portugal, no mês de Abril (um prenuncio do futuro 25 de Abril), dá-se uma primeira tentativa, falhada, de Golpe de Estado, a “Abrilada”, liderada por Botelho Moniz, o então, ministro da Defesa.

Em Junho de 1961, dá-se outro evento importante para a luta de libertação em África. Foi a fuga de um grupo de 60 estudantes de Angola, Moçambique, Cabo Verde entre outros, cujo objectivo era o de se juntarem à luta de libertação

Esta fuga clandestina mudou o destino dos futuros países africanos de expressão portuguesa, já que entre estes estudantes estavam futuros presidentes, ministros, generais e médicos que viriam a ter um papel importante na condução do destino dos seus países.

Dos mais célebres estavam os ex-Presidentes de Cabo Verde, Pedro Pires e de Moçambique Joaquim Chissano. A fuga que partiu de Lisboa, Coimbra e Porto, passou por Espanha, França e Alemanha, antes de conseguirem chegar a África.

O caminho em direção ao 25 de Abril continua com o início da luta armada na Guiné-Bissau, a 23 de Janeiro de 1963, com o ataque ao quartel de Tite, no sul do país, seguindo-se o inicio da luta armada em Moçambique, com o ataque a Chai, em Cabo Delgado a 25 de Setembro de 1964.

 

O caminho em direção ao 25 de Abril


A Fortaleza de São João Baptista de Ajudá. Imagem: © Tienstwatrankil

A Fortaleza de São João Baptista de Ajudá. Imagem: © Tienstwatrankil

O caminho em direção ao 25 de Abril de 1974, começa com o “desmantelamento” do Império Português, o que leva a que a posição de Portugal começa-se a ficar mais fragilizada a nível internacional.

O que a maior parte das pessoas pensam é que este “desmantelamento” do Império se inicia quando as tropas indianas entram em Goa, Damão e Diu a 18 de Dezembro de 1961, mas assim não foi. Na realidade, o primeiro território ultramarino “a cair” foi em África, em Agosto de 1961, com a Perda de Ajudá, ocupada pelo Daomé (actual Benim), tendo Portugal apenas reconhecido o facto depois do 25 de Abril de 1975.

Ajudá era uma das colónias mais pequenas do mundo, com apenas 4,5 hectares de território. Na realidade, era apenas uma fortaleza, a Fortaleza de São João Baptista de Ajudá fundada em 1680 pelos portugueses e que serviu, sobretudo, como entreposto comercial.

Com o início da perda das províncias ultramarinas e o intensificar das campanhas armadas em África, o descontentamento entre os militares começa a subir e as sementes da revolução começam a florescer.

No início de Julho de 1970, no termo da “Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas” que decorreu em Roma, o Papa Paulo VI recebeu os dirigentes do MPLA, PAIGC e FRELIMO, mais precisamente, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos, enfraquecendo ainda mais a posição de Portugal.

Em Março de 1971, ensaia-se novamente o futuro 25 de Abril, quando a Ação Revolucionária Armada (ARA), braço militar do Partido Comunista Português (PCP), liderado por Álvaro Cunhal, destruiu 16 helicópteros e 11 aviões na Base Aérea de Tancos, seguindo-se em Outubro do mesmo ano um atentado contra o Comando Ibero-Atlântico da NATO (COMIBERLANT) em Oeiras.

Numa resolução aprovada a 14 de Novembro de 1972, a Assembleia Geral da ONU reconhece a legitimidade da luta armada em África contra Portugal, onde afirmam:

“Os movimentos de libertação nacional de Angola, da Guiné-Bissau, Cabo Verde e de Moçambique são os representantes autênticos das verdadeiras aspirações dos povos destes territórios”.

Entretanto a guerra em Moçambique começa a tomar proporções “incómodas”. Os massacres de Chawola, Wiriyamu e Juwau, ganham cobertura internacional e ficam para a História como três dos massacres mais graves ocorridos durante a guerra. Estes massacres, fazem subir ainda mais o descontentamento dos militares que não se reviam naquela guerra.

Amílcar Cabral. Imagem: © DR
Amílcar Cabral. Imagem: © DR

A 20 de Janeiro de 1973, o líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Amílcar Cabral é assassinado em Conakry, o que leva o movimento a receber mais apoio internacional, nomeadamente ao receberem armas que levaram a que ganhassem maior supremacia no terreno.

As armas em questão foram mísseis terra-ar do tipo SAM-7 (os famosos Strella) o que lhe permitiu abater aviões, enfraquecendo, dessa forma, a Forcas Aéreas Portuguesa, reduzindo a proteção dos soldados portugueses no terreno.

Munidos com este novo armamento, o PAIGC, controlou todo o território nacional, à excepção de Bissau, a capital, mas foi o suficiente para, a 24 de Dezembro de 1973, proclamarem a independência unilateral nas matas de Madina Boé.

O novo estado foi imediatamente reconhecido internacionalmente por muitos países e, a 2 de Novembro de 1973, a Assembleia Geral da ONU saúda a independência numa votação que teve 93 votos a favor, 30 abstenções e apenas sete votos contra (Portugal, Brasil, Espanha, África do Sul, EUA, Grã-Bretanha e Grécia).

Anteriormente, mais precisamente a 9 de Setembro de 1973, o descontentamento crescente com a guerra, leva, numa reunião clandestina, no Monte Sobral (Alcáçovas) à fundação do Movimento dos Capitães, que daria origem ao Movimento das Forças Armadas (MFA), o movimento que esteve por detrás da “Revolução dos Cravos” que viria a acontecer a 25 de Abril de 1974.

Também em Setembro, dá-se a primeira reunião importante entre o Partido Comunista Português (PCP) e o Partido Socialista (PS) em que em um comunicado conjunto, declaram:

“É necessário liquidar a ditadura fascista para se por termo à guerra colonial, conquistar as liberdades democráticas e iniciar negociações com vista à independência completa e imediata dos povos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique”.

 

25 de Abril de 1974, a “Revolução dos Cravos”


Salgueiro Maia, durante o 25 de Abril. Imagem: © DR

Salgueiro Maia, durante o 25 de Abril. Imagem: © DR

A 25 de Abril de 1974, um golpe de Estado conduzido pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), depõe o regime do Estado Novo, a mais antiga ditadura europeia, no poder desde 1933.

A população apesar dos pedidos radiofónicos para ficar em casa, estimulada pelas células organizadas do PCP, sai massivamente às ruas e adere ao golpe. Por exigência de Marcello Caetano que se recusa a entregar o poder a “um simples capitão” é chamado o general António de Spínola que passa a presidir a Junta de Salvação Nacional.

A 15 de Maio, o general Spínola é nomeado Presidente da República e Adelino da Palma Carlos assume o cargo de primeiro-ministro. Spínola defende que o destino do Ultramar teria de ser decidido “por todos aqueles que chamam e chamaram aquela terra sua”, abrindo assim, caminho para a independência das então províncias ultramarinas.

 

Conclusão


A luta nas colónias, sobretudo em Moçambique e na Guiné-Bissau, criou o Movimento dos Capitães que depois veio a culminar com o 25 de Abril, mas apesar de vários receios entre os movimentos de libertação, e não só, de que o general Spínola estivesse interessado num formato “neocolonial“, o Movimento dos Capitães conseguiu vingar.

Graças ao MFA e ao 25 de Abril, foram criadas as bases que levaram à independência das antigas províncias ultramarinas e, subsequentemente, à criação dos PALOP.

 

O que sabes sobre o 25 de Abril? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 

Ver Também:

O BAD e a importância dos PALOP em África

Cabo Verde é o país mais livre de África

 


Imagem: © 2024 Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

Olá 👋
É um prazer conhecermo-nos.

Regista-te para receberes a nossa Newsletter no teu e-mail.

Não enviamos spam! Lê a nossa política de privacidade para mais informações.

Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.
Ultimas Notícias
Noticias Relacionadas

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leave the field below empty!

Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!

error: Content is protected !!