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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

O Funaná: Património Cultural Imaterial Nacional

O funaná é reconhecido como um símbolo identitário que vincula a tradição e as vivências do cabo-verdiano, na melodia, na poesia e na dança.

Funaná: Património Cultural Imaterial Nacional


O funaná, estilo musical cabo-verdiano, mais frequente na ilha de Santiago, foi classificado como Património Cultural Imaterial Nacional de Cabo Verde, numa homenagem aos seus “guardiões” e praticantes, segundo uma portaria governamental que entrou hoje em vigor.

O enquadramento da decisão está bem assente e plenamente de acordo com a Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, aprovada pela UNESCO, em 2003, e ratificada por Cabo Verde, em 2008, com a diretrizes do Regime Jurídico do Património Cultural e a Convenção para a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (2005).

De acordo com um comunicado do Governo, esta classificação é ainda uma homenagem aos “grandes nomes” desse género musical tradicional que ao longo de várias gerações têm permitido a sua perpetuação e transmissão.

 

O Funaná


O Funaná é um género musical tradicional, genuinamente cabo-verdiano, provavelmente originado no final do século XIX e início do século XX. É considerado uma das maiores referências da música tradicional cabo-verdiana, ao lado de outros géneros como o batuco, finason, tabanca, morna, coladeira, colá São João e talaia baixo.

É também uma das manifestações culturais que traduz o estilo de vida social e cultural dos cabo-verdianos, particularmente os camponeses do interior da ilha de Santiago, permitindo a coesão social almejada. É um ritmo binário, entre o acelerado e o mais lento, dançante, associado ao acordeão, mais conhecido por gaita em Cabo Verde.

As raízes do Funaná remontam aos tempos da escravidão em Cabo Verde, quando os africanos trazidos da África Ocidental trouxeram consigo as suas tradições musicais. O ritmo pulsante e os instrumentos tradicionais, como o acordeão, a guitarra e os ferrinhos, foram incorporados à música cabo-verdiana, dando origem ao Funaná.

Originalmente, o Funaná era tocado em festas e celebrações comunitárias, como casamentos, batizados e festividades religiosas. A música animada e os passos de dança energéticos tornaram-se uma forma de expressão cultural para o povo cabo-verdiano, proporcionando uma maneira de celebrar e compartilhar sua identidade.

Ao longo dos anos, o Funaná evoluiu e adaptou-se às mudanças sociais e culturais em Cabo Verde. No entanto, mesmo com a influência de outros estilos musicais, o Funaná manteve a sua essência e autenticidade, tornando-se um dos pilares da música tradicional cabo-verdiana.

 

O Reconhecimento


Imagem © 2024 DR (20240410) Funaná Património Cultural Imaterial NacionalO Funaná é muito mais do que apenas um género musical. É uma expressão cultural que representa a identidade e as tradições do povo cabo-verdiano. A sua importância é evidente e, o seu legado, continuará a ser celebrado e apreciado por muitas gerações vindouras.

Em reconhecimento à importância do Funaná, o governo cabo-verdiano declarou-o como Património Cultural Imaterial Nacional, procurando preservar e promover essa forma de expressão única. Festivais de música, workshops e programas educacionais foram criados para incentivar o aprendizado e a prática do Funaná, garantindo assim sua continuidade e valorização pelas gerações futuras.

O reconhecimento do Funaná como Património Cultural Imaterial Nacional é um marco importante na preservação e promoção dessa expressão musical única de Cabo Verde.

Através da Portaria n.9/2024 de 09 de Abril, o governo cabo-verdiano oficializou o valor cultural do Funaná, abrangendo não apenas a dimensão intangível e simbólica do género musical, mas também os instrumentos, espaços associados e todos os suportes de registos de músicas, canto e dança.

Essa classificação faz parte de um programa abrangente de proteção e valorização do património histórico e cultural de Cabo Verde para o período de 2022-2026.

Desta forma, o governo cabo-verdiano, por meio do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, reconhece a importância de preservar as memórias e o saber fazer tradicional, promovendo as tradições como uma mais-valia para as comunidades e gerando oportunidades de desenvolvimento sustentável.

Além de salvaguardar o Funaná como Património Cultural Imaterial Nacional, o governo também procura promover a sua divulgação e valorização tanto no país quanto no exterior. Através de programas de incentivo à pesquisa, documentação e difusão desse género musical, o objetivo é criar uma consciência coletiva sobre a importância do Funaná na identidade cultural cabo-verdiana.

 

Os Benefícios


Essa classificação também traz benefícios para as comunidades que mantêm viva a tradição do Funaná. Ao ser reconhecido como património cultural imaterial, o Funaná ganha visibilidade e prestígio, o que pode atrair mais turistas e investimentos para as regiões onde esse género musical é praticado.

Isso, por sua vez, pode gerar uma fonte de rendimento adicional para os praticantes do Funaná, contribuindo para o desenvolvimento económico local. Além disso, este reconhecimento, também é um passo importante no fortalecimento da identidade cabo-verdiana.

O Funaná é um reflexo da história e da cultura do povo cabo-verdiano e, ao preservar e valorizar esta expressão musical, o país reafirma a sua singularidade e diversidade cultural.

 

Processo de Classificação


O processo de classificação do Funaná como Património Cultural Imaterial Nacional, envolveu um amplo trabalho técnico de documentação, inventariação e proposta de proteção legal. Foram realizadas diversas ações de várias naturezas, com o objetivo de viabilizar a transmissão e a perpetuação do Funaná.

Este processo respeitou os princípios estabelecidos pela Convenção do Património Imaterial, incluindo o princípio de continuidade do bem e da sua relevância para a memória e a identidade cultural. Além disso, atendeu aos critérios de valor histórico-cultural, anuência da comunidade e viabilidade/transmissão.

Um dos requisitos do processo foi a realização de um inventário de base comunitária, com a participação ativa da comunidade, detentores e praticantes do Funaná. Isso incluiu tocadores de gaita, tocadores de ferrinho, vocalistas, dançarinas e outros envolvidos nessa prática cultural.

Além do inventário, foram realizadas pesquisas históricas e antropológicas para compreender a origem e a evolução do Funaná ao longo do tempo. Esses estudos contribuíram para a valorização e preservação dessa manifestação cultural, fornecendo subsídios para a elaboração de políticas públicas de salvaguarda.

Outra etapa importante do processo foi a realização de consultas e diálogos com a comunidade, a fim de obter o consentimento e a participação activa dos detentores do conhecimento tradicional do Funaná. Essa abordagem participativa garantiu que a classificação do Funaná como Património Cultural Imaterial Nacional fosse uma decisão coletiva, baseada no reconhecimento e respeito às práticas culturais locais.

Após a conclusão de todas as etapas do processo, o Funaná foi feito o reconhecimento oficial. Esse reconhecimento trás benefícios significativos para a comunidade, como a valorização da sua cultura, a promoção do turismo cultural e a proteção legal contra a apropriação indevida e a descaracterização desta manifestação artística.

 

Uma Homenagem e um Estímulo


A classificação do Funaná como Património Cultural Imaterial Nacional é também uma homenagem aos guardiões dessa prática e aos grandes nomes da música tradicional cabo-verdiana, em particular do Funaná. Ao longo de várias gerações, artistas como Toti Lopi, Antão Barreto, Caetaninho, Sema Lopi, Djubensu Mendes, Manito, Nhonhô Duarte, Codé di Dona, entre vários outros que têm permitido a sua transmissão e perpetuação.

Esses artistas dedicaram as suas vidas à música e ao Funaná, explorando e aprimorando as suas habilidades musicais para partilhar com o mundo esta expressão cultural única. Ao serem reconhecidos como guardiões do Funaná, estes artistas recebem uma homenagem merecida pelo seu trabalho árduo e dedicação à preservação desta forma de expressão.

Esta iniciativa, pretende ser um estímulo para a nova geração, encorajando-os a continuar a tradição do Funaná. Ao receberem este reconhecimento oficial , os jovens músicos são incentivados a explorar e a experimentar o Funaná, mantendo viva essa rica herança cultural tornando-se os pilares desta tradição e transmitindo o seu conhecimento e paixão para as gerações futuras.

As escolas de música e os programas educacionais também podem beneficiar-se deste estímulo, ao incorporarem o Funaná nos seus currículos, oferecendo oportunidades de aprendizagem e prática para os jovens interessados. Desta forma, a nova geração não apenas aprenderá sobre o Funaná, mas também terá a chance de se envolver ativamente na sua preservação e evolução.

 

Conclusão


O reconhecimento do Funaná como Património Cultural Imaterial Nacional é apenas o primeiro passo neste percurso contínuo. É necessário um esforço conjunto da sociedade, do governo e dos artistas para proteger e promover o Funaná, garantindo que ele permaneça vivo e relevante, preservando esta expressão cultural única para ser apreciada e transmitida para as gerações futuras.

 

O que achas desta classificação do funaná? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 


Imagem: © 2024 DR
Francisco Lopes-Santos

Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
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