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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Sudão: 65% Das Mulheres Sofrem Abusos Sexuais

A ONG, World Vision, salientou que, enquanto as atenções do mundo se concentram noutros lugares, a situação no Sudão, transformou-se numa crise humanitária de ‘proporções épicas’.

Sudão: 65% Das Mulheres Sofrem Abusos Sexuais


A organização não-governamental (ONG) World Vision alertou hoje que a fome e a violência sexual atingiram níveis sem precedentes no Sudão, estimando-se que 65% das mulheres tenham sido vítimas de abusos sexuais.

O alerta foi realizado numa altura em se assinalam 500 dias do início do conflito no país africano.

No relatório “Sem precedentes: A crise das crianças e das famílias no Sudão”, a World Vision salientou que, enquanto as atenções do mundo se concentram noutros lugares, a situação naquele país africano transformou-se numa crise humanitária de ‘proporções épicas’, com 26 milhões de pessoas em risco de fome, números que representam mais de metade da população do Sudão.

E prevê-se que destas pessoas, um milhão enfrente condições de fome potencialmente fatais entre Outubro e Dezembro de 2024, refere-se no relatório.

“As crianças são particularmente afectadas pelas elevadas taxas de insegurança alimentar e esta é a maior preocupação da World Vision no Sudão neste momento”.

“Em todo o país, espera-se que quatro milhões de crianças com menos de cinco anos passem fome até ao final de 2024 e que 730.000 sofram de desnutrição aguda grave (…), o momento de agir é agora”.

Afirmou, claramente preocuado, John Makoni, diretor nacional da ONG no país.

A ONG chamou igualmente a atenção para os milhões de crianças e jovens que sofrerão de perturbações mentais graves devido às consequências do conflito. Um problema cujo impacto a longo prazo irá afetar toda uma geração de sudaneses.

“Estima-se que 40% das pessoas com doenças mentais graves sofrem de insegurança alimentar”.

“Mesmo após o restabelecimento da paz, o povo do Sudão necessitará urgentemente de apoio psicossocial”.

Rematou, por seu lado, Phiona Koyiet, conselheira de saúde mental da World Vision.

No relatório da World Vision revela-se também que milhões de mulheres e raparigas encontram-se numa situação de segurança ainda mais agravada como vítimas de violência sexual, tão utilizada como arma de guerra nestas crises.

A presença de actores armados, a deslocação e o enfraquecimento das redes de proteção transformam “os corpos das mulheres e das raparigas em campos de batalha”.

Koyiet afirma ainda que as comunidades estão mais suscetíveis em recorrer a formas específicas de violência sexual, como a exploração ou usando o casamento infantil, para fazer face à insegurança e ao aumento das necessidades.

“A significativa falta de apoio internacional é inaceitável”.

“A negligência global em relação ao Sudão é uma grave falta de solidariedade internacional e de visão”.

“A situação no país e os consequentes fluxos de refugiados ameaçam sobrecarregar toda a região da África Oriental”, alertou ainda, Makoni.

A guerra no Sudão começou a 15 de Abril de 2023 devido a fortes divergências sobre o processo de integração das Forças de Reação Rápida (RSF), paramilitares, agora declaradas uma organização terrorista, nas Forças Armadas, uma situação que levou ao desmoronamento definitivo do processo de transição iniciado em 2019, após a queda do regime de Omar Hassan al-Bashir.

 


Imagem: © Mackenzie Knowles-Coursin / Unesco
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