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ToggleÁfrica Imparável: Moldar os Mercados Mundiais
Durante décadas em África, os acordos comerciais relegaram muitos países do continente para o papel de fornecedores de matérias-primas e consumidores de produtos acabados.
A essa dependência juntaram-se fragilidades institucionais, deficiências de infra-estruturas e limitações na qualificação profissional, factores que impediram a consolidação de cadeias industriais robustas em várias regiões do continente.
Hoje, num contexto de maior volatilidade dos mercados mundiais e de rupturas nas cadeias de abastecimento, abre-se uma janela de oportunidade para que África redefina a sua trajectória económica. A conferencia, Unstoppable Africa 2025, organizada pela Global Africa Business Initiative (GABI), pelo Pacto Global das Nações Unidas e co-convocado pela União Africana, surge exactamente nesse quadro.
À margem da 80.ª Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, Chefes de Estado africanos, empresários, investidores e representantes da sociedade civil reúnem-se sob o lema “The Big Push: Africa Shapes the Markets” com o objectivo de traduzir potencial em iniciativas concretas.
A agenda privilegia sectores estruturantes: infra-estruturas físicas e digitais, energias renováveis, agricultura com valor acrescentado, integração comercial e as indústrias criativas. No centro das discussões está a capacidade de África para subir na cadeia de valor, reter mais riqueza localmente e gerar emprego qualificado para uma população predominantemente jovem.
O sucesso da conferencia dependerá apenas, da capacidade de converter declarações em compromissos, com metas temporais claras, mecanismos de acompanhamento e indicadores de efeito social. Se assim não for, as palavras ficarão pela retórica habitual; com medidas concretas, poderá nascer um movimento capaz de alterar os equilíbrios económicos mundiais e colocar África no centro da inovação.
Liderança Económica Africana
“Os mercados serão definidos pela trajectória de África”.
A mensagem é clara: o continente deixou de ser apenas espectador da economia mundial para se tornar determinante na sua evolução. O fórum de Nova Iorque, organizado pelo Secretário-Geral António Guterres e pelo Presidente da União Africana, Mahmoud Ali Youssouf, assume-se como o principal palco de negócios africanos fora do continente.
O encontro reunirá chefes de Estado, dirigentes empresariais e investidores para discutir como aproveitar recursos abundantes — como o cobalto, o lítio, a energia solar e eólica — e colocar África a subir na cadeia de valor.
A Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA) surge como eixo estratégico: espera-se que aumente em 45% o comércio intra-africano até 2045, reduzindo a dependência de mercados de terceiros. Com uma população jovem e em rápido crescimento, África dispõe de activos humanos únicos.
Mas para converter esse potencial em progresso, precisa de indústrias próprias, produção local e uma narrativa económica que valorize o que é africano, feito em África e para o mundo.
Neste sentido, o Unstoppable Africa 2025 propõe mais do que debates temáticos, propõe a criação de parcerias público-privadas que alinhem financiamento internacional com prioridades nacionais. A meta é clara: gerar emprego de qualidade, promover transferência tecnológica e garantir que a riqueza gerada seja capturada localmente, beneficiando comunidades e reduzindo desigualdades regionais.
Para cumprir esta ambição será necessário também reforçar os mecanismos de acompanhamento e de avaliação de efeito, assegurando transparência nos investimentos e responsabilização pelos resultados sociais e ambientais.
Temas e Oradores
A edição de 2025 do Unstoppable Africa é descrita como uma das mais visionárias de sempre. O objectivo é transformar a disrupção mundial em oportunidade estratégica. A inovação tecnológica, a transição energética e as indústrias criativas estão no centro da agenda.
Os oradores confirmados incluem presidentes como Netumbo Nandi-Ndaitwah (Namíbia), Duma Boko (Botswana), Julius Maada Bio (Serra Leoa) e João Lourenço (Angola). Entre os empresários, surgem nomes como Peter Ndegwa (Safaricom), James Manyika (Google), James Mwangi (Equity Group) e Strive Masiyiwa (Econet e Cassava).
A Conferência conta ainda com a presença de figuras culturais como o chef Marcus Samuelsson e o actor Nomzamo Mbatha, anfitrião do jantar de gala. Esta diversidade de vozes mostra que o futuro africano não se limita ao investimento em infra-estruturas, mas inclui igualmente as expressões criativas e culturais como motor económico.
O programa orienta-se para sectores críticos: infra-estruturas físicas e digitais, energias renováveis e integração comercial. Pretende-se criar uma visão integrada em que o continente lidere soluções mundiais para os desafios energéticos e climáticos. Ao mesmo tempo, destaca-se o papel das indústrias culturais e criativas, capazes de gerar emprego e projectar a imagem de África como centro de inovação.
Financiamento e Patrocínios
Nenhum projecto de transformação continental pode avançar sem recursos financeiros robustos. O Unstoppable Africa 2025 mobilizou uma rede diversificada de patrocinadores. Entre os apoiantes de Platina figuram Afreximbank, Bidvest, Sustainable Energy for All Mission 300 e Pepsico.
No grupo Ouro encontram-se o Banco Africano de Desenvolvimento, a Africa Finance Corporation, a Meta e a Safaricom, enquanto no grupo Prata destacam-se a Africa 50 e a Rockefeller Foundation. Esta rede traduz confiança internacional na capacidade africana de se reinventar.
A discussão na conferência privilegia instrumentos financeiros adaptados à realidade africana: linhas de crédito para pequenas e médias empresas, fundos de capital de risco para start-ups tecnológicas e mecanismos de garantia que reduzam o risco para investidores estrangeiros. A ideia é promover investimentos que gerem cadeias de valor locais e não apenas exportações primárias.
Paralelamente, os meios de comunicação social e as plataformas digitais desempenham um papel central. Parceiros como a African Business, Nation Media Group e Wall Street Africa assumem a responsabilidade de amplificar as discussões e projectar África para o público mundial.
A iniciativa What Makes Africa Unstoppable reforça esta dinâmica, incentivando os cidadãos a partilhar testemunhos sobre a criatividade africana. Para além disso, lançaram no YouTube o Canal Unstoppable Africa que permite a difusão de conteúdos em directo, aproximando o debate das populações.
A mensagem é inequívoca: a transformação de África não será um processo restrito às elites políticas e económicas. Trata-se de um movimento colectivo em que governos, empresários, jovens e criadores culturais devem caminhar lado a lado.
O Futuro do Continente
Um dos pontos mais fortes da narrativa de África imparável é a juventude. Com mais de 60% da população abaixo dos 25 anos, o continente detém a maior reserva de energia humana do planeta. Esta demografia representa um desafio, mas também uma oportunidade: formar, capacitar e integrar estes jovens no mercado de trabalho será a chave para sustentar qualquer transformação.
As indústrias criativas ocupam lugar central nesse processo. Música, moda, cinema, artes visuais e gastronomia não são apenas expressões culturais, mas sectores capazes de gerar emprego, atrair investimento e projectar uma nova imagem de África. Na sequência dessas ideias, Ian Shepherd, CEO Adjunto da Electrify Video Partners, afirmou:
“África é o lar de algumas das mentes mais jovens, criativas e empreendedoras do mundo”.
Esta criatividade é também acompanhada pelo crescimento tecnológico e digital, com start-ups africanas a conquistarem espaço no panorama mundial. Contudo, o futuro depende de escolhas estratégicas: desenvolver indústrias locais, investir em educação de qualidade e criar políticas que garantam estabilidade. Sem estas condições, o potencial corre o risco de se dissipar.
O Unstoppable Africa 2025 procura mostrar que a hora de agir é agora, e que a juventude africana pode ser a maior vantagem competitiva do continente, mas o tempo para agir é curto.
A recomendação unânime dos especialistas presentes aponta para uma abordagem integrada que combine investimento, formação, infra-estruturas e reformas institucionais. Se esses elementos forem alinhados, a juventude africana terá uma oportunidade real de transformar o potencial demográfico numa vantagem competitiva sustentável.
Conclusão
A conferência Unstoppable Africa 2025 é mais do que um conjunto de conferências e jantares de gala ou um encontro diplomático. É o reflexo de uma mudança de mentalidade: África a reivindicar o seu lugar como actor central da economia mundial.
Os discursos, as parcerias e as estratégias aqui delineadas demonstram que o continente não se resigna ao papel de fornecedor de matérias-primas, mas quer comandar o futuro da indústria, da tecnologia, da energia e da cultura.
O desafio é imenso: estabilizar economias frágeis, combater a corrupção, fortalecer instituições e garantir que a riqueza natural se traduz em desenvolvimento humano. Mas a mensagem lançada na conferência é forte: África é imparável.
Achas mesmo que esta conferência vai ajudar África a moldar o seu futuro? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © 2025 GABI
