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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Jonathan Makeba: O Orgulho De Ser Africano

Os africanos querem participar da corrida global, mesmo que não tenham um par de tênis para disputar a corrida, eles vão a pé, mas vão, eles vão descalços, mas vão.

Jonathan Makeba: O Orgulho De Ser Africano


Entrevista Exclusiva a Mais Afrika de Altair Maia, renomado economista e escritor brasileiro, sobre o seu livro “Tributo a Jonathan Makeba”.

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Nesta vigésima primeira Grande Entrevista, falamos com Altair Maia sobre o seu livro “Tributo a Jonathan Makeba”. Ao longo da entrevista, mergulhamos na sua inspiração onde descobrimos a origem das intenções por trás do livro que explora a complexidade da identidade africana, do potencial de África e do orgulho de ser africano.

Ficámos a saber que o protagonista do livro, Jonathan Makeba, é uma síntese de várias personalidades que moldaram a história do continente. Altair Maia discute a importância de líderes como Patrice Lumumba e o desejo de transmitir uma mensagem de esperança e orgulho africanos, tanto no seu livro quanto na adaptação cinematográfica planeada.

Também refletiu sobre as questões sociais e económicas de África, destacando a necessidade de existirem parcerias comerciais genuínas para promover o desenvolvimento sustentável. Por fim, explicou como se pode adquirir o livro e expressou a sua gratidão pela oportunidade de poder partilhar a sua visão com os nossos leitores.

Enfim, foi uma conversa esclarecedora, sobre estes e outros assuntos que vale a pena ser vista/lida. Por isso não percam tempo e vejam, esta interessantíssima entrevista, no nosso Canal do YouTube, +Afrika, ou se preferirem, leiam aqui, a entrevista na integra.

 

Tributo a Jonathan Makeba


O livro relata a luta de um líder político, no coração da África Negra, numa tentativa de desenvolvimento local e regional, ao desafiando o modelo de funcionamento das empresas multinacionais que operam no continente africano.

Actualmente, as grandes empresas mundiais estabelecem-se em África, extraem toda a matéria-prima necessária, levam-na para processamento fora do continente, gerando empregos em várias partes do mundo, excepto no país de onde a extraíram.

É contra esse modelo de exploração que Jonathan Makeba luta, defendendo que as empresas que se instalarem em África devem fazer o processamento da matéria-prima localmente exportando o produto acabado, pronto para consumo, contribuindo assim para a criação de empregos locais e promovendo o desenvolvimento económico local.

Apesar dos potenciais benefícios que este novo modelo de relacionamento poderia trazer para toda a região, incluindo o Sahel africano, as dificuldades e a corrupção enfrentadas por Jonathan Makeba na máquina governamental são o centro desta instigante história.

 

A Entrevista


Vanessa Africani (VA): Altair, seja bem-vindo novamente ao nosso Canal Mais Áfrika. Antes de mergulharmos nesta conversa sobre o seu livro “Tributo a Jonathan Makeba”, gostaria que você se apresentasse novamente para os nossos seguidores que ainda não te conhecem.

Altair Maia (AM): Perfeito, muito obrigado Vanessa. Muito obrigado, Francisco. É um prazer estar aqui com vocês. A África tem um lugar especial em meu coração, e falar sobre ela é sempre uma satisfação. Sou economista e desde 2001 tenho percorrido intensamente o continente africano.

Desenvolvi um profundo respeito e admiração pelos povos africanos, não apenas pela África em si, mas especialmente pelos seus habitantes. A história da colonização e descolonização africana deixou marcas indeléveis, não apenas na África, mas também no mundo todo.

Hoje, elementos da África permeiam todas as sociedades globais. Portanto, é uma preocupação constante buscar alternativas que promovam um entendimento mais amplo e profundo sobre a questão africana.

 

Francisco Lopes-Santos (FLS): Altair, mais uma vez, seja bem-vindo ao nosso canal. Vou abordar um ponto que me chamou atenção após a leitura do seu livro “Tributo a Jonathan Makeba”. Na introdução, você afirma que Jonathan Makeba é um personagem composto por partes das personalidades de homens e mulheres que lutaram pelo desenvolvimento dos países africanos.

Isso ficou claro. No entanto, ao longo da história, percebi várias semelhanças entre Jonathan Makeba e o líder congolês, Patrice Lumumba. Essa semelhança foi intencional? Se sim, de que maneira Lumumba influenciou a construção do personagem e a narrativa do livro?

AM: Perfeito, Francisco. Como mencionei anteriormente e como você destacou agora, Jonathan Makeba é uma composição de várias personalidades. Ao longo dos meus mais de 20 anos de experiência na África, principalmente na Costa Oeste, explorei países como Nigéria, Benim, Togo, Guiné-Bissau e Senegal.

Durante essas viagens, tive a oportunidade de conhecer pessoas comprometidas com a causa africana, tanto vivas quanto através da leitura sobre líderes africanos que moldaram o continente durante a redemocratização. Patrice Lumumba, sem dúvida, foi um desses líderes.

Sua vida e ideologia são fontes de inspiração para todos os africanos. Sempre que possível, faço questão de abordar sua trajetória, destacando a trágica forma como foi traído e eliminado, assim como outros líderes africanos. Jonathan Makeba incorpora um pouco de cada um desses grandes líderes africanos, tanto os que tive o privilégio de conhecer pessoalmente quanto os que estudei e pesquisei.

 

VA: Altair, após concluir a leitura do seu livro, fiquei com a impressão de que ele busca refletir sobre a realidade africana combinando elementos fictícios com questões econômicas e sociais reais. Essa é realmente a intenção da sua obra?

AM: Ao longo das últimas décadas, temos testemunhado esforços do mundo para ajudar a África. No entanto, questiono de que forma essa ajuda é oferecida. Não é minha intenção acusar ninguém, mas é notório que grande parte desses recursos destinados à África acabam retidos nos bancos europeus ou nas mãos de líderes questionáveis no continente.

Pouco mais de 5% da ajuda realmente se traduz em benefícios tangíveis. Portanto, confrontamos uma questão que, embora seja rotulada de pós-colonial, ainda mantém resquícios do colonialismo. A África não busca essa forma de ajuda. O que ela almeja é uma parceria comercial genuína, visando a inserção no mercado global.

Não importa se começarão atrás na corrida; o desejo é participar com igualdade de condições. Como mencionei em uma passagem do livro, os africanos querem participar da corrida, mesmo que não tenham um par de tênis para fazer a corrida.

Os países que não tiverem um par de tênis para disputar a corrida global, eles vão a pé, mas vão. Eles vão descalços, mas vão. Pois o que realmente importa é a oportunidade de participar ativamente da economia globalizada.

 

FLS: Ao inserir-se diretamente na trama do livro como investigador principal, dando a ideia de que a história é verídica, transmitiu uma dimensão única à narrativa.

No entanto, não consigo deixar de pensar no paralelismo de personagens como o Robert Langdon, criado pelo Dan Brown, ou o Tomás Noronha, criado por Rodrigues dos Santos, com o seu personagem neste livro. Foi de facto beber ideias a estes autores?

AM: Após minha imersão na África, absorvi tudo o que encontrei relacionado ao continente, seja em obras literárias de autores africanos ou não. Li extensivamente sobre as agruras enfrentadas pelos africanos durante as lutas pela independência. Alguns países conseguiram a sua independência de forma pacífica, outros não, outros foi com guerras e guerra intensas e sangrentas.

A descolonização não foi uma decisão fácil para os colonizadores que relutaram em abrir mão do controle sobre territórios tão ricos em recursos. Não se larga o osso de um bom pedaço de carne, não é? A reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial desviou a atenção e os recursos financeiros das colônias africanas, alimentando assim os movimentos de independência.

Personagens como Patrice Lumumba no Congo, Agostinho Neto em Angola e muitos outros nasceram desse contexto de luta pela autodeterminação. No livro, busquei destacar o orgulho africano e a capacidade de os africanos moldarem seu próprio destino. É um tema que ressoa especialmente com a juventude africana atual, que busca inspiração nos líderes do passado para construir um futuro melhor.

 

VA: Altair, recebemos informações de que o realizador Licínio Azevedo tem intenções de adaptar o seu livro para o cinema. Como é que surgiu essa oportunidade e quão importante é ter um realizador com experiência e o prestígio de Licínio Azevedo envolvido nesse projeto?

AM: Enviei meu livro para diversas pessoas na África, incluindo regiões como África do Sul, Moçambique e Angola. Até o embaixador angolano na Coreia, Albino Malungo, recebeu uma cópia. Licínio foi uma dessas pessoas para quem fiz questão de enviar o livro.

Começamos a trocar mensagens e ideias e, em certo momento, surgiu a oportunidade de uma palestra em Maputo, onde fui convidado para discutir o processo industrial da cadeia produtiva do caju. Durante essa visita, avisei Licínio sobre minha presença e combinamos de nos encontrar.

Durante esse encontro, ele me mostrou o roteiro praticamente finalizado do filme baseado no meu livro “Tributo a Jonathan Makeba”. Concordamos em seguir em frente com o projeto, pois reconhecemos o alcance e o impacto que o cinema pode ter, especialmente em relação a uma temática tão importante como a africana.

Discutimos bastante sobre como adaptar a história para o cinema e até identificamos alguns locais para as filmagens. Infelizmente, a pandemia interrompeu nossos planos, como aconteceu com tantos outros projetos ao redor do mundo.

No entanto, a ideia de transformar “Tributo a Jonathan Makeba” em um filme, ainda está viva e temos esperança de concretizá-la no futuro. Licínio é um entusiasta da questão africana, tendo se apaixonado por Moçambique durante sua cobertura da guerra de independência do país. Sua experiência e dedicação são valiosas para o sucesso deste projeto.

 

FLS: Com a adaptação do livro para o cinema, certamente vai alcançar um público muito mais amplo. Ao atingir essa audiência expandida que mensagem ou temas espera que o filme transmita?

AM: Francisco, você colocou muito bem quando destacou o alcance expandido que o cinema proporciona, especialmente entre os jovens. E é essa juventude que vai receber a mensagem essencial do filme “Tributo a Jonathan Makeba”. Essa mensagem é clara e está presente em uma das passagens do livro: toda a riqueza provém da terra.

Ou aprendemos a trabalhar a terra ou ficamos perpetuamente dependentes de ajuda externa. Este é o cerne da mensagem que desejamos transmitir a essa juventude, seja através do livro ou do filme: a importância vital de uma relação saudável com a terra. No livro, a história gira em torno de uma mina de fosfato que se transformará em um recurso fundamental para impulsionar a agricultura.

Além disso, a empresa responsável por essa transformação, sob a liderança de Jonathan Makeba, compromete-se a estabelecer escolas agrícolas para educar os jovens africanos sobre práticas agrícolas sustentáveis. Essas escolas, inicialmente focadas na região do Sahel, visam enfrentar desafios como a pobreza extrema e a insegurança alimentar.

A história de Jonathan Makeba, surge como uma resposta às crises passadas e como uma visão para um futuro sustentável, onde a África é reconhecida como um continente viável e próspero. Após a África, restam apenas os polos, mas transformar o Ártico e a Antártica em fontes de riqueza é mil vezes mais desafiador do que desbloquear o potencial da África.

 

VA: Altair, você tem alguma preocupação específica ou esperança em relação à fidelidade da adaptação cinematográfica, ao espírito e à mensagem do seu livro?

AM: Não, preocupação não. Eu tenho esperança, esperança de que realmente ele possa traduzir a esperança para os povos africanos e que possa fazer com que o africano sinta orgulho de ser africano. Isso é algo que se vê pouco hoje, quer dizer, quando você vê a questão do negro no Brasil, há uma preocupação de se buscar uma maior igualdade entre brancos e negros.

E isso é algo que certamente todas as pessoas de bem defendem: o não racismo. Agora, a questão não é só o não racismo, a questão é o desenvolvimento, é o crescimento, porque o racismo existente, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, ou na África mesmo, em qualquer lugar que seja, o racismo, mas ele é mais econômico do que racial.

Então, quando você vê um negro que ascende, o racismo contra ele é mínimo, já contra um negro pobre, você vê que o racismo é bastante acentuado.

Então, a questão do racismo é muito mais econômica do que racial, ou social. E isso, na hora que você busca o crescimento da sociedade como um todo, os negros têm de participar também, têm que estar junto para que haja não só uma questão de crescimento, mas que haja um desenvolvimento humano e social.

 

VA: Altair, para finalizar, queria saber onde é que a gente pode encontrar o seu livro, onde é que as pessoas que estiverem interessadas podem encontrar o seu livro e se tem algum trecho dele que você acha mais interessante ou mais cativante que você queira mencionar?

AM: Olha só, mesmo na Amazon. O livro está na Amazon, a edição em português física impressa acabou. Eu fiz 1000 cópias apenas desse livro e, aleluia, acabou. Esgotou. Agora na Amazon você pode comprar o livro tanto impresso quanto o e-book. O e-book parece que custa 6 dólares, 7 dólares e o livro custa 12 dólares ou alguma coisa dessa natureza.

E quem quiser ler em inglês também tem em inglês e tem também em francês. Em francês ficou uma versão muito bem feita e o nosso Embaixador na França elogiou o francês do livro, falou: “Olha, parabéns”. Eu agradeço à Helen Caetano que foi a garota que fez a versão para o francês.

Então é um livro que está aí, eu acredito que a grande mensagem dele, realmente, além da questão da esperança do aspecto econômico, é motivar o orgulho africano. Porque o final do livro, ele fala exatamente isso, fala do orgulho africano.

E há uma frasezinha que eu coloco que durante uma palestra alguém perguntou, a primeira pergunta que o Francisco fez, se o Jonathan Makeba realmente existiu ou não. Eu falei: “Olha, ele não só existiu como existe no coração e mente de cada um de vocês que estão aqui me escutando”. Essa foi a mensagem final.

 

FLS: É uma boa mensagem para terminarmos. Muito obrigado por este tempo que esteve aqui connosco. Ele já vai longo. Foi um prazer estar aqui consigo, muito obrigado por esta entrevista e, quem sabe, até uma próxima.

AM: Com certeza. Estou sempre à disposição. Muito obrigado, Vanessa. Muito obrigado, Francisco. Saúde para todos.

 


Imagem: © 2024 Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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Francisco Lopes-Santos
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