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O tambor falante Djidji Ayôkwé, um símbolo cultural e espiritual da Costa do Marfim, está prestes a regressar à sua terra natal e ao povo Ébrié.
A devolução foi oficializada esta Segunda-Feira, 18 Novembro 2024, em Paris, através da assinatura de uma convenção entre as Ministras da Cultura da França, Rachida Dati e da Costa do Marfim, Françoise Remarck. Este acto marca o fim de um processo diplomático e patrimonial que começou há mais de três anos.
O Djidji Ayôkwé que significa literalmente “tambor que fala”, é um artefacto sagrado do povo Ébrié, um grupo étnico da Costa do Marfim.
Utilizado historicamente para transmitir mensagens a longas distâncias, este tambor representa um património único, tanto material como imaterial. Retirado durante o período colonial, foi conservado num museu em França, longe das suas origens culturais e das suas funções tradicionais.
O Tambor Falante Djidji Ayôkwé
Confiscado em 1916 pelo exército francês à comunidade Ébrié, na Costa do Marfim, durante a ocupação colonial, o Djidji Ayôkwé foi retirado à força da sua comunidade Ébrié e ficou exposto a um contexto alheio ao seu significado cultural, permanecendo fora do seu território original por mais de um século.
Até 1930, permaneceu ao ar livre na residência do governador francês da Costa do Marfim, Marc Simon, onde enfrentou intempéries e ataques de insectos xilófagos, até ser enviado para França, onde foi guardado durante anos no Museu Quai Branly, em Paris.
Com cerca de três metros de comprimento e um peso de 430 quilos, este tambor além do aspecto cultural e espiritual é um exemplo impressionante de engenharia. Esculpido em madeira, o tambor era utilizado pelas comunidades Ébrié para transmitir mensagens importantes, muitas vezes relacionadas a avisos de perigo, convocação para guerras ou para organizar cerimónias e festivais.
Conhecido como “tambor falante”, o seu som ecoava por longas distâncias, levando informações cruciais para aldeias distantes. Para os Ébrié, o tambor é mais do que um objecto físico: é um símbolo de união e de identidade, representando a ligação entre gerações através de tradições orais e musicais.
Antes de poder ser devolvido ao seu país de origem, o tambor passou por um processo de restauro para garantir que estivesse em condições adequadas, tendo também sido criada uma base especial para facilitar o transporte seguro e o manuseamento do artefacto, no seu regresso a casa.
Uma série de especialistas do Museu Quai Branly, trabalharam para reparar os danos causados pelos anos de exposição às intempéries e pela acção de insectos, não sem passarem por um processo consulta realizado com as autoridades da Costa do Marfim e com os chefes das aldeias afectadas pela ausência do tambor.
A Importância do Djidji Ayôkwé
A devolução deste tambor faz parte de um movimento mais amplo de regresso dos bens culturais africanos espoliados, um tema central nas relações franco-africanas. Em 2018, o relatório Savoy-Sarr, encomendado pelo Presidente francês Emmanuel Macron, recomendou a devolução de vários objectos de arte africana.
Este relatório gerou um intenso debate sobre o regresso do património retirado durante a colonização. Para a Costa do Marfim, o regresso do Djidji Ayôkwé representa uma vitória simbólica. Françoise Remarck destacou este evento como;
“Um reconhecimento da história e da dignidade do povo da Costa do Marfim”.
A Ministra também sublinhou a importância do Djidji Ayôkwé na cultura Ébrié, onde desempenhava um papel fundamental na comunicação, justiça e rituais. Por sua vez, Rachida Dati afirmou que esta devolução reflecte uma vontade de corrigir as feridas do passado colonial.
Relembrou ainda a importância do diálogo entre os dois países para tratar das questões patrimoniais de forma respeitosa e construtiva. A cerimónia de assinatura da convenção vai ser seguida de uma exposição temporária do Djidji Ayôkwé em França, antes da sua transferência definitiva para Abidjan.
Direitos Culturais e Históricos
As autoridades da Costa do Marfim projectam instalar o tambor num museu dedicado à conservação e valorização do património nacional. O processo de devolução não foi isento de obstáculos. Questões relacionadas com a propriedade legal e a conservação do artefacto atrasaram as negociações.
No entanto, a pressão de organizações culturais e de defensores do património contribuiu para acelerar o diálogo. Este regresso representa também uma oportunidade para a Costa do Marfim reforçar a valorização do seu património cultural entre os cidadãos.
Especialistas esperam que este evento inspire iniciativas educativas e culturais ligadas às tradições da Costa do Marfim. O caso do Djidji Ayôkwé reacende também a questão mais ampla dos milhares de objectos africanos ainda mantidos em museus ocidentais.
Para muitos países africanos, cada devolução constitui um passo significativo para o reconhecimento dos seus direitos culturais e históricos. Com o regresso do Djidji Ayôkwé, a Costa do Marfim celebra um momento de unidade e reafirmação da sua identidade cultural, enquanto inaugura um novo capítulo na gestão do património africano à escala mundial.
Conclusão
A devolução do Djidji Ayôkwé representa muito mais do que o regresso de um objecto físico. Este acto simboliza o compromisso crescente com a valorização do património cultural africano, fortalecendo o respeito mútuo entre as nações.
Para a Costa do Marfim, esta restituição celebra a dignidade do povo Ébrié e serve como um marco inspirador para a recuperação de outros bens culturais africanos ainda dispersos. Ao recuperar este artefacto sagrado, o país reafirma as suas raízes e abre portas para um futuro onde a preservação da identidade cultural assume o centro das atenções no mundo.
Concordas com a devolução dos artefactos históricos como o tambor falante Djidji Ayôkwé aos seus respectivos países de origem? Não vai isso esvaziar os museus e prejudicar a cultura de uma forma geral? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © 2024 Sébastien Németh