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ToggleFestas de África: Abu Simbel, Celebrar O Sol
Já ouviste falar do Festival de Abu Simbel, no Egipto? Não, então prepara-te para descobrires um dos eventos mais fascinantes e espirituais de África, onde história, ciência e cultura, se entrelaçam de forma extraordinária.
Enquanto o mundo avança e as tradições se vão diluindo, há celebrações em África que resistem com uma força singular, mantendo viva a fé e a identidade de um povo, mas, da mesma forma, outras novas vão surgindo mostrando que o continente também evolui conseguindo manter a sua ancestralidade.
Hoje, continuamos a nossa série de 17 artigos sobre as festas de África, onde vamos explorar os eventos que dão vida e cor às comunidades do nosso continente. Vamos mergulhar nas histórias e experiências destas celebrações únicas, onde a cultura, a espiritualidade e as tradições resistem ao tempo e interligam gerações.
Hoje vamos até ao deserto egípcio para explorar a magia do Festival de Abu Simbel, um evento que continua a cativar e a inspirar gerações, ligando o passado ao presente de forma surpreendente.
Duas vezes por ano, a 22 de Fevereiro e a 22 de Outubro, o Templo de Abu Simbel, construído pelo faraó Ramsés II, torna-se o palco de um fenómeno único: o alinhamento perfeito do sol com o interior do templo, iluminando as estátuas das divindades e do próprio Ramsés II.
Neste evento além de podermos apreciar uma maravilha arquitectónica, observamos o testemunho da genialidade da civilização egípcia antiga que usava o cosmos como parte integrante da sua cultura e espiritualidade.
O festival, no entanto, vai para muito mais além do que um simples alinhamento solar. É uma celebração vibrante que reúne visitantes de todo o mundo para testemunharem o fenómeno e participarem em danças folclóricas, música tradicional e outras actividades culturais que exaltam o rico património egípcio.
Vem por isso descobrir, porque é que este evento é tão especial e, como é que ele mantém viva a memória de um povo e continua a inspirar o futuro.
O Fenómeno Solar de Abu Simbel
O ponto alto do Festival de Abu Simbel é, sem dúvida, o alinhamento solar no interior do templo principal, uma obra-prima da arquitectura egípcia. Este fenómeno ocorre devido à orientação precisa do templo que foi projectado de forma a permitir que, duas vezes por ano, os raios do sol alcancem as estátuas do santuário interno.
As estátuas representadas no interior do templo são as de Ramsés II, de Amon-Rá (deus do sol), de Rá-Harakhty (deus do céu) e de Ptá (deus da criação). Curiosamente, ou talvez não, a estátua de Ptá, associada à escuridão, permanece na sombra, enquanto as outras são iluminadas, reforçando o simbolismo espiritual e astronómico do evento.
Mas por que estas datas específicas? Acredita-se que os dias escolhidos correspondem ao aniversário da coroação de Ramsés II (22 de Fevereiro) e ao dia do seu nascimento (22 de Outubro), destacando a centralidade deste faraó na história e na cultura do Egipto antigo.
Este alinhamento além de ser um feito técnico sem par, é a memória daquela que era a ligação profunda entre os egípcios e os ciclos da natureza. O sol, fonte de vida e poder, era central na mitologia egípcia e o fenómeno de Abu Simbel é uma celebração desta harmonia entre a humanidade e o cosmos.
O Festival de Abu Simbel
Uma Celebração ao Amanhecer
O Festival de Abu Simbel começa numa atmosfera única, antes mesmo do nascer do sol. De madrugada, uma multidão de pessoas, incluindo egípcios, turistas estrangeiros, historiadores e amantes da cultura antiga, reúne-se em frente ao majestoso templo de Ramsés II.
O local, envolto numa tranquilidade quase sobrenatural, é iluminado apenas pelas estrelas e pelo brilho da expectativa que paira no ar. À medida que os primeiros raios do sol despontam no horizonte, todos os olhares se fixam na entrada do templo, onde ocorre o momento mais aguardado: o alinhamento solar.
A luz atravessa o corredor interno e atinge as estátuas de Ramsés II e das divindades egípcias, num espectáculo que parece desafiar o tempo e a lógica. A precisão deste fenómeno que dura apenas alguns minutos, é impressionante, evocando uma sensação de reverência pela genialidade da civilização que o criou.
Enquanto o sol se alinha com o santuário, ecoam cânticos pelo ambiente, entoados por grupos locais vestidos com trajes tradicionais. Estes cânticos, muitas vezes inspirados em hinos antigos e em louvores aos deuses egípcios, adicionam uma dimensão espiritual ao evento, lembrando que, para os egípcios antigos, o alinhamento solar era também um momento de ligação com o divino.
A cerimónia é acompanhada pelo som de instrumentos como o simsimiyya e o nay que criam uma atmosfera sonora envolvente, complementando a beleza visual do amanhecer.
Este espectáculo matinal, além de ser um momento de profunda contemplação, é uma experiência que deixa marcas profundas em todos os presentes. Para muitos visitantes, observar este fenómeno em Abu Simbel é mais do que um evento cultural; é um verdadeiro percurso pessoal de introspecção e de ligação com as maravilhas que nos chegam do passado.
Cultura e Tradição
Quando o alinhamento solar termina, a celebração transforma-se numa festa vibrante, onde a cultura egípcia ganha vida em apresentações que combinam música, dança e artesanato. As danças folclóricas, muitas vezes inspiradas em rituais ancestrais, são um dos pontos altos do festival.
Grupos culturais vindos de diversas regiões do Egipto exibem coreografias que contam histórias sobre a relação dos antigos egípcios com a natureza, os deuses e o Nilo. Cada dança é acompanhada por instrumentos tradicionais, como o tabla (uma espécie de tambor egípcio), o oud (instrumento de cordas) e o riqq (uma espécie de pandeireta).
Estes sons, profundamente enraizados na história musical do Egipto, criam um ambiente que transporta os espectadores para a antiguidade, permitindo-lhes experimentar as emoções e o espírito dos tempos de Ramsés II.
Para além das danças, o festival inclui exposições de trajes típicos que mostram a diversidade cultural das diferentes regiões do Egipto. Os visitantes têm a oportunidade de aprender sobre os significados simbólicos das cores, padrões e materiais usados em cada peça, muitos dos quais remontam às tradições faraónicas.
Além disso, o festival é um espaço para a troca de conhecimentos. Artesãos locais realizam workshops onde demonstram técnicas antigas de escultura em pedra, produção de cerâmica e fabrico de jóias. Estas oficinas são uma oportunidade para os visitantes observarem o trabalho minucioso e para experimentarem criar as suas próprias peças, aproximando-se ainda mais do espírito do evento.
Um Encontro Mundial
O Festival de Abu Simbel á muito tempo que deixou de ser apenas um momento de celebração para os egípcios, presentemente é transcendeu as suas origens e é um ponto de encontro de culturas. Pessoas de todo o mundo reúnem-se neste evento, partilhando a paixão pela história e pela beleza da herança egípcia.
Este intercâmbio cultural é um dos aspectos mais enriquecedores do festival, pois permite que os visitantes descubram não apenas o Egipto, mas também outras tradições trazidas pelos próprios turistas.
Nos mercados temporários instalados perto do templo, artesãos locais exibem o seu talento, oferecendo produtos como miniaturas de estátuas, tecidos bordados à mão e especiarias típicas da região. É aqui que o festival assume também um carácter económico, ajudando a sustentar famílias locais e promovendo o artesanato como um dos pilares da cultura egípcia.
Para muitos turistas, o Festival de Abu Simbel é uma experiência que vai muito além da contemplação do alinhamento solar. É uma oportunidade de viver o Egipto de forma autêntica, experimentando a hospitalidade do povo local e a riqueza das suas tradições, enquanto criam memórias que durarão para sempre.
Um Festival Especial
Um Símbolo de Engenharia e Espiritualidade
O alinhamento solar no Templo de Abu Simbel não é apenas um fenómeno de precisão técnica; é também uma prova do profundo conhecimento que os egípcios antigos possuíam sobre astronomia, arquitectura e espiritualidade.
O templo foi projectado com uma exactidão impressionante, considerando a posição do sol, a orientação do edifício e os ciclos astronómicos, algo que seria difícil até mesmo com as tecnologias modernas. Este evento destaca a forma como a ciência e a espiritualidade estavam interligadas no Egipto antigo.
Para os faraós, o alinhamento do templo com o sol não era apenas um feito arquitectónico; era uma forma de reafirmar a sua divindade e a sua ligação directa com os deuses. Ramsés II, por exemplo, é retractado no templo como uma figura quase divina, iluminada pelos raios do sol, reforçando a sua posição como mediador entre os deuses e o povo.
Uma Herança Resgatada
O significado do Festival de Abu Simbel tornou-se ainda mais forte depois da década de 1960, quando o templo foi ameaçado pela construção da barragem de Assuão. Para evitar que fosse submerso pelas águas do Lago Nasser, a UNESCO montou uma operação monumental para desmontar e reconstruir o templo numa área mais elevada, mantendo todo o seu esplendor no mais pequeno detalhe.
Este resgate além de ter preservado uma das maiores maravilhas do mundo antigo, ainda hoje simboliza o esforço mundial para proteger o património cultural da humanidade. Hoje, o festival é uma celebração não só da civilização egípcia, mas também da capacidade da humanidade de se unir para salvaguardar a sua história.
Impacto Cultural e Económico
Para os egípcios, o Festival de Abu Simbel é uma fonte de orgulho nacional. Ele reforça a ligação entre as gerações actuais e o rico passado do país, promovendo um sentimento de pertença e continuidade. Ao mesmo tempo, o festival é um importante motor económico, atraindo milhares de turistas que dinamizam a economia local.
Os impactos positivos estendem-se à comunidade local que beneficia de empregos temporários e da valorização das suas tradições. O festival também inspira iniciativas educacionais, como programas escolares que ensinam às crianças a importância do património cultural, ajudando a garantir que este legado seja preservado para as gerações futuras.
Em última análise, o Festival de Abu Simbel é muito mais do que um evento astronómico; é uma celebração da engenhosidade humana, da ligação com o divino e do poder da cultura em unir as pessoas.
Conclusão
O Festival de Abu Simbel é uma celebração que interliga a genialidade da antiguidade com a curiosidade do presente, transcendendo o tempo. É uma experiência única, onde história, ciência e cultura se encontram, oferecendo aos participantes um vislumbre da grandiosidade da civilização egípcia da antiguidade.
Apesar de ser um evento turístico, este festival é um símbolo do património humano. Ele relembra-nos que, mesmo com o passar dos séculos, as obras e os conhecimentos dos nossos antepassados continuam a inspirar e a maravilhar o mundo. Para quem procura uma experiência que combina espiritualidade, cultura e história, o Festival de Abu Simbel é, sem dúvida, um destino imperdível.
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Imagem: © DR