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ToggleCabo Delgado: Escutem O Genocídio Silencioso
Desde a sua descoberta por exploradores portugueses no século XVI, Cabo Delgado, uma província situada no norte de Moçambique, foi sempre marcada pela sua riqueza cultural e pelos seus recursos naturais.
No entanto, nos últimos 6 anos, a região ganhou destaque não pela sua beleza exuberante, mas sim pela violência sem precedentes que assola as suas terras. Tal como em Gaza, no Médio Oriente, está a ocorrer um genocídio inqualificável, só que se de um, se fala diariamente na TV, do outro sobrevive o silêncio do genocídio de que ninguém fala.
Cabo Delgado
Cabo Delgado é uma província localizada no norte de Moçambique, conhecida pelasua diversidade étnica, praias intocadas e rica história. Com uma população predominantemente muçulmana, a região tem sido palco de uma violenta insurgência desde 2017, causando devastação e deslocamento em massa.
Antes dos conflitos recentes, Cabo Delgado era conhecido pela sua tranquilidade e pela hospitalidade dos seus habitantes. No entanto, a pobreza generalizada e a falta de oportunidades económicas contribuíram para a desestabilização da região ao longo das décadas.
O Genocídio Silencioso de Cabo Delgado
A insurgência em Cabo Delgado, liderada pelo grupo extremista Al-Shabaab que procura impor a sua ideologia extremista pela força na região, não resultou apenas em perdas de vidas humanas, mas também na destruição de infraestrutura e meios de subsistência. A população local tem sido submetida a atrocidades indescritíveis, incluindo massacres em massa e sequestros.
As incursões dos rebeldes islâmicos assolam a província de Cabo Delgado, em Moçambique, desde 2017 e, de acordo com dados das agências das Nações Unidas, o conflito já fez mais de um milhão de deslocados e cerca de 4.000 mortes.
Como sempre, as crianças são as mais afetadas e, ou porque é já um hábito, ou porque não é um conflito “próximo” do ocidente, pouco ou nada se fala deste terror em Moçambique nos media internacionais.
Os principais alvos dos ataques são os residentes locais, com ênfase particular nas comunidades rurais mais desfavorecidas e sobre a população cristã. As motivações por trás dos ataques em Cabo Delgado são multifacetadas, incluindo questões socioeconómicas, políticas e religiosas. A pobreza extrema e a marginalização da população local têm alimentado o descontentamento e a radicalização.
O Papel do Governo
Apesar dos esforços do governo moçambicano para conter a violência, a resposta tem sido criticada pela sua falta de eficácia e coordenação. A comunidade internacional também tem sido lenta na sua intervenção, deixando os habitantes de Cabo Delgado desamparados diante da crise.
Além das consequências imediatas sobre a população, o genocídio que ocorre em Cabo Delgado também está a deixar um rastro de destruição ambiental, com a deslocação forçada das populações e a perda de meios de subsistência, a afectarem negativamente a vida selvagem e os ecossistemas locais.
As organizações internacionais e alguns governos estrangeiros, têm fornecido assistência humanitária e apoio financeiro para ajudar a aliviar o sofrimento em Cabo Delgado. No entanto, são necessários mais esforços coordenados para abordar as raízes profundas desta crise humanitária, esquecida pelo Ocidente.
O Regresso do Terror
Após um período de vários meses de relativa acalmia, os ataques terroristas à população cristã da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, voltaram. No último mês quase 100 mil pessoas tiveram de fugir – na maioria crianças (62%).
A nova vaga de ataques terroristas em Cabo Delgado provocou 99.313 deslocados em menos de um mês, segundo estimativas divulgadas esta terça-feira, 5 de Março de 2024, pela Organização Internacional das Migrações (OIM).
A principal causa, de acordo com o boletim semanal da OIM a que Mais Afrika teve acesso, é a deslocação de pessoas provocada pelos ataques ocorridos entre os dias 8 de Fevereiro e 3 de Março, sobretudo nos distritos de Chiùre e Macomia, respetivamente com 91.239 e 5.719 deslocados naquele período, das quais 61.492 são crianças.
A situação levou ao encerramento temporário de 157 escolas e os registos da OIM apontam para 20.668 famílias deslocadas, por barco, autocarro ou a pé, em menos de um mês, no sul da província de Cabo Delgado.
No mesmo boletim, a OIM refere que entre 22 de Dezembro de 2023 e 3 de Março de 2024, “ataques esporádicos e medo de ataques de grupos armados” em Macomia, Chiure, Mecufi, Mocímboa da Praia e Muidumbe já levaram à fuga de 24.241 famílias, num total de 112.894 pessoas.
A Reivindicação dos ataques
Esta nova vaga de ataques em direção ao sul de Cabo Delgado que tem vindo a crescer desde Dezembro, após um período de vários meses de relativa acalmia, foi reivindicado pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI).
O grupo, reivindicou no final de Fevereiro a autoria de 27 ataques no mesmo mês, em vilas “cristãs” no distrito de Chiùre, Cabo Delgado, em que afirma que morreram 70 pessoas.
Através dos canais de propaganda do grupo, que documenta estes ataques com fotografias, é referida ainda a destruição de 500 igrejas, casas, e edifícios públicos naquele distrito do sul da província de Cabo Delgado, conforme declarações a que a Lusa teve acesso.
Há mais de seis anos que Cabo Delgado enfrenta uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Rwanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC).
O Apelo dos Media
Apesar da gravidade da situação e de o genocídio em Cabo Delgado ter sido amplamente divulgado nos media locais, é completamente ignorado pelos media internacional e pelo Ocidente.
O silêncio em torno do genocídio em Cabo Delgado não apenas perpetua o sofrimento das vítimas, mas também permite que os perpetradores continuem a sua campanha de terror impune. Ignorar esta crise é inaceitável e tem sérias ramificações para a estabilidade regional e global.
Como cidadãos globais, é nosso dever falar sobre o genocídio de Cabo Delgado e pressionar os nossos líderes políticos e as organizações internacionais a tomarem medidas decisivas., como doações para organizações humanitárias locais e lutar por uma resposta mais robusta política e militar que possa fazer a diferença.
Apesar dos desafios enfrentados, é necessário encontrar-se um compromisso renovado com a paz e a justiça, com o apoio adequado da comunidade internacional. Com essa ajuda, é possível reconstruir e revitalizar a região para que num futuro próximo, regresse a esperança para Cabo Delgado.
Conclusão
O genocídio silencioso em Cabo Delgado é uma tragédia que merece atenção urgente da comunidade internacional. Os dados alarmantes sobre o número de deslocados e vítimas revelam a gravidade da situação.
É imperativo que os governos e organizações globais intensifiquem seus esforços para conter a violência, prestar assistência humanitária e abordar as causas subjacentes do conflito. O silêncio em torno desse genocídio é inaceitável e só serve para perpetuar o sofrimento das vítimas e a impunidade dos perpetradores.
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Imagem: © 2024 Alfredo Zuniga / Getty Images