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ToggleNamíbia: Primeira Comemoração do Genocídio
A Namíbia instituiu o dia 28 de Maio como feriado nacional em memória das vítimas do genocídio Herero e Nama. O país exige o reconhecimento total e reparações pela violência colonial alemã entre 1904 e 1908. A Alemanha ofereceu 1,1 mil milhões de euros em ajuda ao desenvolvimento, mas continua a recusar reparações judiciais pelo que a desconfiança persiste entre os dois países.
No início do século XX, o império alemão ocupou a África do Sudoeste, actual Namíbia, confiscando terras e gado dos povos locais. A revolta dos Herero em 1904 desencadeou uma resposta militar brutal, onde foram efectuados massacres e criados campos de concentração.
Lothar von Trotha, o comandante alemão há altura, ordenou o extermínio sistemático, resultando na morte de 80% dos Herero e metade dos Nama. Os crânios de vítimas foram enviados para Berlim para serem realizadas em experiências sobre a superioridade racial alemã em relação “aos pretos”.
Em 2021, a Alemanha admitiu o genocídio após décadas de negação, mas evitou efectuar indemnizações directas. O acordo de 1,1 mil milhões de euros, a serem pagos ao longo de 30 anos, foi classificado como insuficiente pelas autoridades namibianas.
Os sobreviventes do genocídio, exigem reparações simbólicas além das materiais, bem como a devolução dos restos mortais retidos em museus europeus. A data de 28 de Maio relembra o encerramento dos campos em 1907, após pressão internacional.
A dor histórica mistura-se com a luta contemporânea por justiça. Várias organizações Herero e Nama criticam a sua exclusão das negociações bilaterais entre os dois governos e a falta de transparência no uso dos fundos alemães gera desconfiança nas comunidades afectadas. O processo de cura, segundo os activistas, exige mais do que simples discursos diplomáticos, ou “esmolas” monetárias.
Raízes do Conflito

A colonização alemã na Namíbia começou em 1884, com a exploração dos seus recursos e a imposição de trabalho forçado. O confisco de terras férteis pelos colonos europeus deixou os Herero e os Nama sem sustento. As mulheres indígenas foram submetidas a violência sexual, ampliando o trauma colectivo. A revolta de 1904 surgiu como o último recurso contra a opressão.
A resposta alemã incluiu a ordem de extermínio total: homens, mulheres e crianças foram perseguidos até ao deserto de Omaheke. Quem sobreviveu à fuga foi capturado e enviado para campos de concentração, como o de Shark Island. Trabalho escravo, fome e doenças mataram milhares, enquanto os crânios eram enviados para a europa para se efectuarem “estudos” raciais.
A brutalidade foi profusamente documentada, mas ignorada pela comunidade internacional da época. A revolta dos Nama, ocorrida em 1905, ampliou o conflito, mas a superioridade militar alemã esmagou a resistência. Líderes como Hendrik Witbooi foram mortos e as suas comunidades dispersas.
O genocídio reduziu os Herero de 80 mil para 15 mil sobreviventes e os Nama de 20 mil para 10 mil. Na paisagem namibiana ainda persistem vales com ossadas dispersas não identificadas.
Negação e Reconhecimento

A Alemanha evitou por mais de um século assumir a responsabilidade legal pelo genocídio. Após a independência da Namíbia em 1990, o tema ressurgiu com a pressão de activistas e académicos. Em 2015, tiveram início as primeiras negociações formais, mas a questão das reparações dividiu as partes. A oferta alemã de 2021 focou-se em ajuda ao desenvolvimento, evitando o termo “indemnizações”.
O acordo foi criticado por excluir representantes directos dos Herero e dos Nama e as organizações civis acusaram os governos de dar prioridade às relações diplomáticas sobre a justiça histórica. A devolução, em 2019, de parte dos crânios e das ossadas, embora simbólica, não reparou o dano moral. A falta de um pedido de desculpas formal mantém a ferida aberta.
Em 2025, a primeira comemoração nacional namibiana, simboliza um passo na direcção da reconciliação. A vigília no Parlamento visa honrar as vítimas e educar as novas gerações. No entanto, a recusa alemã em aceitar processos judiciais por reparações alimenta cepticismo. Para muitos, o dinheiro oferecido não apaga um século de silêncio.
Conclusão

O genocídio dos Herero e dos Nama permanece como uma sombra na história colonial africana. O reconhecimento tardio da Alemanha é um avanço, mas insuficiente para curar décadas de abandono. A luta por reparações justas e memoriais dignos continua a definir o presente namibiano.
A comemoração anual de 28 de Maio é um convite à reflexão mundial sobre os crimes coloniais não resolvidos. Enquanto alguns crânios repousarem em arquivos e museus europeus, a dignidade das vítimas exige mais do que cerimónias. África reclama o direito de reescrever a sua história com verdade e justiça.
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Imagem: © 2021 DR