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Quarta-feira, Abril 30, 2025

Trabalho Infantil e Casamento Forçado em Filme

"Minina di Bandeja", filme guineense de Mussá Baldé, é um grito cinematográfico contra o silêncio que expõe o trabalho infantil e o casamento forçado na Guiné-Bissau. Com cenas cruas de assédio e violência, o projecto quer sacudir consciências locais e mundiais ao distribuir cópias gratuitas para quem quiser lutar contra estes flagelos.

Trabalho Infantil e Casamento Forçado em Filme


“Minina di Bandeja”, um filme polémico que denuncia as práticas do trabalho infantil e do casamento forçado de raparigas na Guiné-Bissau, realizado pelo jornalista guineense Mussá Baldé, está em fase de conclusão.

Correspondente em Bissau da agência portuguesa de notícias e do serviço de língua portuguesa da RFI (Rádio França Internacional), o Mussá Baldé adiantou que o filme se destina sobretudo a apoiar as organizações da sociedade civil na Guiné-Bissau que trabalham nessa temática.

Quando concluir a edição do filme “Minina di Bandeja”, Mussá Baldé pretende, entregar cópias da obra a qualquer organização que queira ter acesso ao filme, ou que são parceiras nesse trabalho, para divulgação e sensibilização comunitária.


Divulgação do Filme


Além da divulgação na Guiné-Bissau, Mussá Baldé quer fazer o mesmo no exterior. A ideia é levar o filme aos festivais internacionais e mostras de cinema, desde logo em Portugal, porque é preciso que o mundo saiba o que se está a passar na Guiné-Bissau.

Apesar da existência de um grande trabalho de sensibilização que tem sido feito ao longo dos anos, estas duas temáticas, trabalho infantil e casamento precoce ou casamento forçado, ainda continuam a ser o dia-a-dia da Guiné-Bissau.

O objectivo é divulgar o filme internamente e internacionalmente para que as várias comunidades, mesmo que não sejam afectadas directamente com estes flagelos, possam eventualmente estar interessadas em conhecer um pouco mais a realidade da Guiné-Bissau e ajudar o país a enfrentar estes flagelos.

O filme, com cerca de 70 minutos, pretende demonstrar algumas das vicissitudes por que passam as raparigas em venda ambulante, designadamente o assédio sexual, a violência sexual, a violência física e a violência psicológica.


A Realidade Guineense


Mussá Baldé pretende demonstrar que a venda ambulante e o casamento forçado são também factores para a baixa escolarização da população feminina na Guiné-Bissau e provar que qualquer rapariga que for apoiada e orientada pode estudar, formar-se e ajudar o país.

“A criança em venda ambulante é mais susceptível de não andar na escola ou ter bom aproveitamento escolar”.

“Há casos de raparigas que percorrem cerca de 25 quilómetros diários na venda ambulante, em Bissau”.

“Devido a isso, estas raparigas estão expostas à gravidez precoce ou ao casamento forçado”, afirmou Mussá Baldé.

O sexto Inquérito aos Indicadores Múltiplos (MICS), realizado pelo Governo guineense e pela UNICEF, com a parceria das agências da ONU como o PNUD, FNUAP e PAM e ainda da União Europeia, publicado em Outubro de 2020, revela, entre outras conclusões que o fenómeno do casamento precoce de menores continua a ser uma realidade na Guiné-Bissau.

O documento revela que 25,7% das raparigas com menos de 18 anos estão casadas na Guiné-Bissau, das quais 11,4% no meio urbano e 36,1% no meio rural. Na Guiné-Bissau, uma criança em cada três trabalha, ou seja 39% de todas as crianças dos 5 aos 17 anos.

“Estes dados alarmantes impeliram-me a pensar na realização de um filme que pudesse trazer à ribalta a realidade das crianças/raparigas que são obrigadas pelos adultos a casarem e que ficam submetidas ao trabalho infantil”, explica Mussá Baldé.

O Código Civil em vigor na Guiné-Bissau, estipula que o casamento só é legal a partir dos 16 anos.


A Realização


Mussá Baldé começou a escrever o roteiro há cerca de dois anos e iniciou as filmagens a 28 de Fevereiro de 2025, com a participação de estudantes de liceus e universidades da Guiné-Bissau e de actores guineenses.

Dada a falta de equipamento na Guiné-Bissau, Mussá Baldé pretende, após pré-edição e edição em Bissau, fazer a pós-produção em Lisboa para corrigir aspectos técnicos e tratar da legendagem. “Minina di Bandeja” é falado em crioulo e a ideia, é ter cópias com legendas em português, francês, inglês e espanhol.

“O filme não será comercializado, ninguém vai pagar para assistir a este filme”.

“É para ser projectado para divulgar e sensibilizar para o combate ao flagelo do trabalho infantil e do casamento precoce ou forçado”, reitera Mussá Baldé.

Mussá Baldé reconhece que o projecto é um risco financeiro, já que o orçamento do filme está apenas coberto em 40%, pelo apoio inicial da UNICEF, FNUAP e do Banco da África Ocidental.

“É uma iniciativa ousada da minha parte, mas também, se eu não tiver coragem, nunca mais vou fazer o filme”, vinca.

Mussá Baldé contactou outras instituições e aguarda que também se juntem ao projecto, designadamente o instituto Camões que considera uma instituição muito importante na ajuda e promoção dos direitos humanos na Guiné-Bissau.

“Portanto, neste momento está-nos a faltar à volta de 60% do orçamento do filme”.

“Mas, graças a Deus, com o apoio que o Banco da África Ocidental nos deu, comprámos um equipamento novo em Lisboa e agora estamos a avançar”, adianta.

Mussá Baldé tem a esperança de que as instituições que se interessam por estas temáticas percebam que é preciso ajudar, porque está a fazer um trabalho que vai servir para as ajudar no trabalho que também fazem.


Conclusão


Minina di Bandeja” é um espelho da Guiné-Bissau que muitos insistem em ignorar. Mussá Baldé, com coragem, levanta o véu sobre as raparigas que carregam bandejas em vez de livros e trocam sonhos interrompidos por casamentos forçados. A obra desafia não só a sociedade guineense, mas o mundo, a perguntar: quantas infâncias precisam ser roubadas antes de agirmos?

A aposta de Baldé em cópias gratuitas revela a urgência do tema. Se a câmara denuncia, cabe às instituições transformar indignação em acção. Com 60% do orçamento por garantir, o projecto pede mais que apoio financeiro – exige consciência colectiva. Pois, como diz o realizador:

“Nenhuma rapariga nasceu para vender na rua ou ser esposa antes de ser mulher”.

 


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Imagem: © 2015 Alfredo Cunha
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