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Quarta-feira, Setembro 17, 2025

Moçambique / BM: Apoio Financeiro em Discussão

O Banco Mundial afirmou hoje que o novo Quadro de Parceria com Moçambique deverá estar fechado até final do ano, mas garante não ter compromisso com um pacote de investimento de 50 mil milhões de dólares, conforme noticiado.

Moçambique / BM: Apoio Financeiro em Discussão


Moçambique encontra-se diante de uma encruzilhada decisiva para o seu futuro económico e social. O Banco Mundial, uma das mais influentes instituições financeiras internacionais, está em plena fase de consultas e negociações que poderão definir a estratégia de apoio ao país durante os próximos cinco anos.

Entre expectativas elevadas, polémicas em torno de valores anunciados e o desejo de alinhar prioridades nacionais com metas de desenvolvimento sustentável, cresce a interrogação: até que ponto esta parceria poderá transformar os sectores vitais da economia moçambicana e responder às aspirações da sua juventude em crescimento?

Nas últimas semanas, a discussão pública em torno do chamado Quadro de Parceria com Moçambique ganhou uma nova intensidade. Relatos sobre um alegado pacote de 50 mil milhões de dólares geraram ondas de entusiasmo e especulação, mas também levaram o Banco Mundial a esclarecer que esse montante não corresponde a qualquer compromisso formal.

A instituição insiste que os debates ainda decorrem e que só no final do ano deverá ser oficializado o documento estratégico que orientará a cooperação. Entre diplomacia, expectativas sociais e pragmatismo económico, Moçambique assiste a um processo que pode redefinir a sua trajectória de desenvolvimento.


O Esclarecimento do Banco Mundial


O ponto de partida para a actual discussão foi a circulação de notícias da darem conta de um investimento de 50 mil milhões de dólares do Banco Mundial em Moçambique, informação que foi logo desmentida pela instituição.

O esclarecimento foi efectuado através de um comunicado, informando que não existe qualquer decisão nesse sentido, nem o valor foi sequer ainda debatido pelo Conselho de Directores Executivos.

O que está em curso são apenas consultas públicas e diálogos técnicos para definir o próximo Quadro de Parceria com o país, instrumento que orientará áreas prioritárias de apoio, mecanismos de financiamento e formas de acompanhamento das políticas de desenvolvimento.

Segundo o Escritório do Banco Mundial em Moçambique, situado em Maputo, o documento deverá ser concluído até ao final do ano e só depois é que será aprovado formalmente.

A instituição sublinhou ainda manter um “compromisso firme” com Moçambique e destacou a importância de alinhar a sua estratégia com as prioridades do Governo, de modo a garantir uma visão de longo prazo capaz de enfrentar desafios estruturais como pobreza persistente, desemprego juvenil e falta de diversificação económica.

A polémica acabou por expor a grande expectativa em torno do papel do Banco Mundial, num país marcado por crises cíclicas, desastres naturais e instabilidade política, onde a possibilidade de receber investimentos robustos é vista como um factor determinante para acelerar a recuperação e o crescimento.

Contudo, a clarificação feita pela instituição mostra que o processo ainda se encontra em fase embrionária e que a definição de valores concretos dependerá da negociação em curso e da capacidade do Governo moçambicano em apresentar uma agenda governamental credível e sustentável.


As Prioridades de Moçambique


Enquanto o Banco Mundial procura definir a sua estratégia, o Presidente de Moçambique, Daniel Francisco Chapo, deixou clara a visão do Executivo sobre os sectores que devem comandar o desenvolvimento. Durante um encontro com Ndiamé Diop, vice-presidente do Grupo Banco Mundial, realizado em Maputo, o Chefe de Estado sublinhou três áreas centrais: agricultura, agronegócio e turismo.

A aposta na agricultura e no agronegócio tem uma justificação imediata: Moçambique possui vastas áreas aráveis, mas enfrenta ainda baixa produtividade e dependência de importações alimentares. Melhorar a eficiência agrícola e criar cadeias de valor ligadas ao processamento de produtos pode não só reduzir a vulnerabilidade alimentar, como também gerar empregos em massa.

O turismo, por sua vez, representa uma das maiores potencialidades do país, devido à sua diversidade natural e cultural. Contudo, o sector carece de infra-estruturas adequadas, segurança e políticas de promoção consistentes.

Chapo defendeu que todas as políticas de desenvolvimento devem ser guiadas por uma agenda laboral. Em outras palavras, a criação de emprego deve ser o eixo central que articule as demais iniciativas.

Este discurso encontra respaldo na realidade demográfica: Moçambique é uma nação jovem e em rápido crescimento populacional. Transformar essa juventude em força produtiva é mais do que uma necessidade social, é um imperativo político para garantir a estabilidade. Neste encontro, as estimativas indicaram a existência de potenciais oportunidades de investimento de cerca de 50 mil milhões de dólares.

Ainda que o Banco Mundial tenha rejeitado a ideia de um pacote fechado com este montante, a referência feita pela Presidência mostra a dimensão da ambição moçambicana. Em suma, o Governo procura projectar uma imagem de confiança e de visão estratégica, capaz de atrair parceiros internacionais dispostos a investir em sectores estruturantes.


As Exigências do Banco Mundial


Se Moçambique tem as suas prioridades, o Banco Mundial traça condições indispensáveis para viabilizar qualquer estratégia de parceria. O presidente da instituição, Ajay Banga, afirmou que a primeira medida necessária é a estabilização da situação macrofiscal do país.

Sem esse equilíbrio, será difícil assegurar confiança, atrair investimento privado e dar sustentabilidade a qualquer projecto de longo prazo. Banga destacou que Moçambique dispõe de activos estratégicos: sol, gás natural, recursos hidroeléctricos e posição geográfica vantajosa.

Estes factores podem transformar o país num dos principais fornecedores de energia da África Austral, um mercado em que a procura cresce e a oferta continua insuficiente. Contudo, para explorar esse potencial, o Governo precisa de criar estabilidade e previsibilidade.

Outro ponto sublinhado foi a urgência de qualificar a juventude. Banga recordou que não há três décadas para resolver o problema, senão uma geração ficará sem perspectivas, surgindo o risco da instabilidade social e de migração irregular. O Banco Mundial defende, por isso, uma estratégia integrada que cruze educação, emprego e empreendedorismo, garantindo oportunidades para os jovens.

No campo das infra-estruturas, a instituição apontou a necessidade de investir nos corredores de desenvolvimento que ligam os portos ao interior e aos países vizinhos. Estes corredores são vitais para dinamizar o comércio regional, reduzir custos logísticos e transformar Moçambique num hub económico.

O discurso de Banga mostra que a parceria não se limitará a injecções financeiras. O turismo, a agricultura e as pequenas empresas aparecem como áreas em que o Banco Mundial poderá intervir de forma significativa.

A instituição exige uma visão abrangente que articule estabilidade macroeconómica, valorização de recursos, integração regional e juventude. A questão central é saber se o Governo conseguirá responder a este nível de exigência, num país que enfrenta desafios persistentes como a dívida pública elevada, a corrupção e a fragilidade institucional.


Consultas Públicas


Um aspecto inovador deste processo de negociação é a abertura à participação da sociedade civil e de diversos intervenientes. O Banco Mundial lançou oficialmente as consultas para o Quadro de Parceria Estratégica 2026–2031, abertas a representantes de organizações não-governamentais, sector privado, meio académico, centros de pesquisa e também à diáspora moçambicana.

Estas consultas que decorrem entre 12 de Setembro e 28 de Novembro de 2025, pretendem recolher contributos sobre os principais desafios e oportunidades do país. O objectivo é assegurar que a estratégia final não seja apenas um exercício tecnocrático, mas incorpore as perspectivas de quem vive e conhece a realidade no terreno.

Os participantes são convidados a partilhar opiniões sobre as áreas prioritárias, a eficácia do trabalho já realizado e as vantagens comparativas do Banco Mundial. A abertura à participação da diáspora é particularmente relevante. Moçambique possui uma comunidade espalhada pelo mundo, com experiências e conhecimentos diversificados que podem enriquecer o debate.

O Banco Mundial procura, assim, recolher contributos que transcendam fronteiras e permitam um desenho mais inclusivo da estratégia. Entre os materiais de apoio disponíveis encontram-se documentos como o Quadro de Parceria Estratégica para o período 2023–2027, brochuras explicativas e apresentações que sintetizam os objectivos do processo.

Esta base documental pretende dar aos participantes um ponto de partida sólido para fundamentar as suas contribuições. A realização destas consultas marca uma diferença em relação a anteriores processos de cooperação internacional, frequentemente criticados por ignorarem a participação das comunidades locais.

Ao abrir este espaço de diálogo, o Banco Mundial assume que a eficácia do seu apoio depende não apenas da relação com o Governo, mas também da capacidade de ouvir e integrar as vozes da sociedade. O verdadeiro desafio será transformar este exercício participativo em compromissos concretos que façam diferença no quotidiano dos cidadãos.


Conclusão


O debate em torno do próximo Quadro de Parceria entre Moçambique e o Banco Mundial representa muito mais do que um processo burocrático. Trata-se de uma oportunidade histórica para o país redefinir as suas prioridades, alinhar recursos com necessidades concretas e envolver a sociedade civil na construção de soluções.

Entre a expectativa de grandes investimentos e a exigência de reformas estruturais, Moçambique enfrenta o desafio de provar que está preparado para transformar potencial em progresso. A parceria poderá ser decisiva para sectores como a agricultura, o turismo, a energia e a educação.

No entanto, o sucesso dependerá da capacidade de estabilizar as finanças públicas, criar confiança nos investidores e garantir que as promessas se traduzem em benefícios palpáveis para a população. Mais do que números ou valores anunciados, o que está em jogo é a possibilidade de construir um futuro de dignidade e esperança para milhões de moçambicanos.

 


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Imagem: © 2009 Mathew Cavanaugh
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