Angola/EUA: A União De Parceiros Improváveis
A parceria entre Angola e os Estados Unidos da América (EUA), atinge na próxima semana o seu ponto mais alto com a visita de Joe Biden ao país, entre 02 e 04 de Dezembro – a primeira de um Presidente norte-americano a Angola – com as atenções voltadas para o reforço e aprofundamento dos laços diplomáticos e económicos.
Durante décadas, o petróleo foi a pedra basilar das relações económicas entre os EUA e Angola que não se interromperam, nem durante a guerra civil de quase 30 anos, iniciada logo após a independência de Angola, em 1975, em que os dois países se encontraram em lados opostos, com os norte-americanos a apoiar os rebeldes da UNITA contra o MPLA.
Embora os EUA tenham reconhecido Angola em 1993, sinalizando a vontade de evoluir para uma relação mais construtiva, o ponto de viragem só se iniciaria a partir de 2002 com o fim da guerra, quando Angola começou a preparar a reconstrução nacional com ajuda dos aliados internacionais (sobretudo chineses).
Evolução da Parceria EUA-Angola
A relação entre Angola e os EUA passou por uma transformação substancial nos últimos 30 anos. Frances Brown, assistente especial do Presidente Joe Biden, destacou recentemente a evolução desta relação, referindo que se tornou mais robusta e estratégica.
“A transformação do relacionamento EUA-Angola ganhou ritmo nos últimos anos”.
“Vemos Angola como um parceiro estratégico e um líder regional”.
Salientou Frances Brown, sinalizando uma visão optimista para o futuro desta parceria.
Em 2023, o comércio bilateral atingiu cerca de 1,77 mil milhões de dólares, colocando Angola como o quarto maior parceiro comercial dos EUA na África Subsaariana.
Este crescimento reflecte uma abordagem multifacetada: os EUA têm procurado fortalecer laços em áreas como infraestruturas, clima, paz e segurança, e comércio, enquanto reconhecem o papel de Angola como líder regional.
Uma Parceria Estratégica
Com a chegada de João Lourenço ao poder, em 2017, Angola tem-se mostrado cada vez mais disponível para ser um parceiro estratégico do Ocidente em África, devido aos seus recursos naturais e localização privilegiada com acesso à costa Atlântica, e o executivo angolano que pretende diversificar a economia e estar menos dependente do petróleo, procura aliados que o ajudem a concretizar essa ambição.
Agricultura, energias renováveis, tecnologias de informação e comunicação e infraestruturas são algumas das áreas que o Governo chefiado por João Lourenço quer desenvolver com a ajuda norte-americana.
Angola já conta com empresas como a Africell (Telecom) e a Sun Africa (energias renováveis), além dos financiamentos de milhões de dólares da International Development Finance Corporation (DFC) para o Corredor do Lobito.
Os EUA, por seu lado, olham para Angola como um aliado que os poderá apoiar em matéria de segurança e estabilidade regional, reconhecendo igualmente o potencial do corredor ferroviário que atravessa Angola até à República Democrática do Congo e se apresenta como alternativa à iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”, acelerando o transporte de minerais críticos e produtos agrícolas a partir do interior.
Ao mesmo tempo, Angola tem tentado equilibrar esta relação com outras alianças, nomeadamente a China e a Rússia, que permanecem parceiros com interesses significativos nos recursos, infraestruturas e apoio militar.
Jogo de Cintura
A política externa angolana tem sido marcada por um delicado “jogo de cintura” entre potências mundiais como os EUA e a China. No entanto, com a eleição de Donald Trump, este equilíbrio tornou-se mais complicado. O académico Ricardo Soares de Oliveira, da Universidade de Oxford, aponta que:
“Trump não tem a tolerância da administração Biden para com Estados não-alinhados”.
Trump demonstrou pouco interesse em África durante o seu primeiro mandato (2017-2021), adoptando uma abordagem predominantemente transaccional, centrada em indústrias extractivas. Caso este padrão se mantenha, Angola poderá enfrentar desafios acrescidos para equilibrar as relações com Washington e Pequim, especialmente se a rivalidade entre os EUA e a China se intensificar.
O Papel de Joe Biden
A visita de Biden, inicialmente prevista para Outubro, acontece já depois das eleições norte-americanas que deram a vitória ao republicano Donald Trump e não terá por isso o impacto que se esperava, assinalando, ainda assim, a vontade de estreitar os laços e demonstrar o carácter mutuamente vantajoso da relação.
Mas ainda não é claro se a proximidade se manterá no mandato do seu sucessor, havendo oportunidades, num panorama de competição entre potências mundiais, mas também desafios que se prendem com a imprevisibilidade das políticas do futuro ocupante da Casa Branca.
Conclusão
A parceria entre Angola e os EUA está numa fase crítica, marcada por avanços significativos e desafios estratégicos. Enquanto o governo Biden procura aprofundar laços com Angola, o panorama mundial e as mudanças políticas internas nos EUA continuam a moldar a dinâmica desta relação.
A continuidade e o aprofundamento desta relação estratégica dependerão não apenas da diplomacia angolana, mas também das políticas da futura administração norte-americana e da evolução da competição geopolítica entre potências. A capacidade de Angola de navegar entre os interesses destes concorrentes mundiais será essencial para maximizar os benefícios desta parceria estratégica.
Imagem: © Ampe Rogério