Índice
ToggleMorreu Dilon Djindi: O Decano Da Marrabenta
Dilon Djindi, carinhosamente conhecido como o “King da Marrabenta”, criador de músicas como Podina, Marracuene e Maria Rosa, morreu na madrugada desta quarta-feira, 18 de Setembro de 2024, deixando o mundo da música mais pobre e, Moçambique, sem um dos seus maiores ícones.
Com 97 anos de idade, Dilon Djindi faleceu deixando um legado cultural que moldou a música e a dança moçambicanas e lusófona, por várias gerações. A sua morte marca o fim de uma era, mas a sua influência perdurará por muito tempo, reflectida nas músicas e nos passos que ajudou a imortalizar.
O Início da Carreira de Dilon Djindi
Nascido em Marracuene, uma pequena localidade perto da capital moçambicana, no dia 14 de Agosto de 1927, Dilon Djindi desde cedo mostrou uma grande inclinação para a música. Aos 11 anos, já se destacava em eventos familiares e locais, onde acompanhava a sua irmã mais velha em casamentos, eventos que lhe permitiram começar a praticar o canto.
Porém, o seu pai, preocupado com o futuro do filho, não aprovava essa escolha. Na visão do patriarca, a música não oferecia um caminho seguro e promissor e, por isso, enviou Dilon Djindi para Lourenço Marques, actual Maputo, com a intenção de afastá-lo desse meio.
Em Lourenço Marques, Dilon Djindi encontrou na música religiosa uma nova vertente para explorar o seu talento. Sob a recomendação de Eduardo Mondlane, figura proeminente na luta pela independência de Moçambique, Dilon Djindi começou a envolver-se com grupos religiosos, mas sem nunca abandonar as suas raízes musicais.
Ao tocar “xiparatwana”, uma dança tradicional de Marracuene, captou a atenção de figuras importantes da sociedade, o que foi crucial para que ele não desistisse de seguir o seu verdadeiro chamado.
A Evolução da Marrabenta
Dilon Djindi é muitas vezes associado à criação da marrabenta, um estilo musical que mistura sons tradicionais moçambicanos com influências europeias, especialmente portuguesas. Ele autoproclamou-se o “King da Marrabenta”, título que muitos reconhecem com justiça.
Segundo Dilon Djindi, foi ele quem introduziu os passos da dança que mais tarde se tornariam sinónimo do género. O estilo musical nasceu nos bairros populares de Maputo, num contexto de repressão colonial, onde a população africana muitas vezes procurava refúgio e formas de resistência cultural na música e na dança.
A marrabenta era inicialmente uma dança popular nascida dos bairros pobres, tocada com instrumentos improvisados, como latas e cordas de nylon. A simplicidade dos instrumentos contrastava com a complexidade rítmica e melódica das músicas, que rapidamente conquistaram o público.
A música de Dilon Djindi trouxe alegria a muitos, mas ele fez sempre questão de sublinhar que o seu maior objetivo era a preservação e a valorização da cultura moçambicana.
Para ele, a marrabenta não era apenas uma forma de entretenimento, era também um símbolo de identidade e resistência. Dilon Djindi confirmou em várias entrevistas, ter sido ele o criador dos passos da marrabenta, insistindo também que o seu contributo à música do seu país iria muito além do palco.
O Primeiro Disco
Em 1973, Dilon Djindi gravou o seu primeiro disco, uma etapa marcante na sua carreira. Esta gravação consolidou o seu lugar como uma figura de destaque na música moçambicana, atraindo atenção internacional. Músicas como Podina, Marracuene e Maria Rosa tornaram-se rapidamente populares, tanto em Moçambique como em outras partes da África Austral e em particular nos PALOP.
O estilo cativante de Dilon Djindi, aliado às suas letras cheias de significado cultural e social, tornou-o uma referência inquestionável. Com o tempo, a marrabenta começou a ganhar reconhecimento fora das fronteiras moçambicanas.
A combinação dos ritmos africanos com influências europeias fez com que este estilo fosse apreciado por audiências internacionais, levando Dilon Djindi a ser convidado para actuar em diversos países. Contudo, Dilon Djindi nunca perdeu de vista as suas raízes e regressava sempre a Moçambique para continuar o seu trabalho de promoção e preservação da música tradicional.
O Legado de Dilon Djindi
Dilon Djindi será sempre lembrado como o homem que deu alma à marrabenta. O seu compromisso com a música e a cultura moçambicana, ao longo de mais de 80 anos de carreira, deixou uma marca indelével. Ele foi muito mais do que um músico; foi um defensor incansável da tradição, um artista que acreditava no poder da cultura como uma forma de fortalecer a identidade do seu povo.
Ao longo da sua carreira, Dilon Djindi lutou para que a música moçambicana e, em particular, a marrabenta, fosse reconhecida e respeitada dentro e fora de Moçambique. A sua influência é sentida até hoje, não só pelos músicos que o sucederam, mas também pelo público que continua a dançar ao som da marrabenta em festas e celebrações por todo o mundo.
A sua morte é uma perda irreparável, mas o seu legado cultural permanece vivo, perpetuado por aqueles que, inspirados pela sua obra, continuam a preservar e a promover a marrabenta e outras formas de expressão culturais moçambicanas.
Conclusão
A vida e a carreira de Dilon Djindi são um verdadeiro testemunho de dedicação à cultura e à música. Numa altura em que o mundo se torna cada vez mais globalizado, Dilon Djindi mostrou como é importante valorizar e preservar as tradições locais. A marrabenta, que ele tanto lutou para manter viva, continua a ser uma parte essencial da identidade cultural moçambicana.
O seu nome, será sempre associado a este legado. Ao recordarmos Dilon Djindi, celebramos não apenas o músico, mas também o defensor incansável da cultura moçambicana. O seu som, a sua dança, e a sua paixão pela preservação da marrabenta continuarão a inspirar as gerações futuras.
Sabias que Dilon Djindi era o criador da marrabenta? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © 2008 Wolfgang Schmidt