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ToggleA Arte do Lixo: Simonet Biokou, A Forja Da Tradição
Conheces os artistas africanos que transformam lixo em arte? Não? Então prepara-te para conhecer Simonet Biokou, do Benim e descobrir um dos movimentos criativos mais surpreendentes e inspiradores do continente. Num mundo onde o consumo excessivo e o desperdício crescem a olhos vistos, há vozes em África que encontram beleza onde outros só vêem abandono.
Com uma mistura única de tradição, inovação e consciência ambiental, estes artistas reciclam metais, plásticos, tecidos, objectos abandonados, restos de tecnologia e até armas, dando-lhes uma segunda vida sob a forma de esculturas, instalações e obras de arte que contam histórias poderosas.
Este é o sexto artigo da nova série de 17, desta vez dedicada a criadores visionários que não só resgatam materiais esquecidos, como também reinventam a forma de pensar sobre a arte, a sustentabilidade e o futuro do planeta. Cada peça é uma prova de resistência, criatividade e ligação às comunidades, mostrando que daquilo que parecia perdido pode nascer algo belo e transformador.
Se procuras inspiração, inovação e uma perspectiva diferente sobre o que a arte pode ser, não percas esta viagem. Vais conhecer artistas que desafiam os limites do possível e que fazem de África um palco vibrante da arte contemporânea feita a partir do inesperado: o lixo.
Simonet Biokou

Simonet Biokou nasceu a 7 de Julho de 1965, em Porto Novo, a capital histórica do Benim. Esta cidade, palco de séculos de intercâmbio cultural e rica em tradições artesanais e espiritualidade Vodum, foi o ambiente formador da sua vida. A proximidade ao ferro — material omnipresente na vida quotidiana das comunidades locais — viria a delinear o seu percurso e o seu destino artístico.
Proveniente de uma linhagem de ferreiros tradicionais, Biokou cresceu a observar o pai e outros artesãos a moldar o metal com uma precisão quase ritual, transformando a matéria bruta em objectos de utilidade ou em símbolos de poder. Essa infância, passada entre o som do martelo e o calor das forjas, foi a sua verdadeira escola de arte, muito antes de qualquer contacto com o meio académico.
Desde jovem, Biokou demonstrou um fascínio pelo potencial expressivo do ferro. Para ele, o metal parecia possuir uma alma própria, uma memória oculta que reagia ao fogo e à mão humana. O gesto do ferreiro, repetido desde tempos imemoriais, era visto não apenas como técnica, mas como um acto espiritual.
Esta percepção, inerente ao universo Vodum, moldou profundamente o seu olhar. A tradição oral, as danças, os rituais e as máscaras de Porto Novo alimentaram a sua imaginação, atribuindo significado a cada ferramenta, corrente ou pedaço de ferro.
Expressão Artística

O trabalho de Simonet Biokou distingue-se por uma combinação rara de vigor técnico e profundidade simbólica. Cada escultura é o resultado de um processo demorado de recolha, selecção e transformação de materiais.
O artista percorre sucatas e oficinas de automóveis à procura de peças metálicas — pistões, correntes, radiadores, engrenagens, molas e chapas — que já cumpriram o seu ciclo funcional. Depois, reorganiza-as, conferindo-lhes uma nova identidade formal e espiritual.
O ferro enferrujado, os restos de motores e os fragmentos de maquinaria tornam-se, nas suas mãos, elementos vivos, dotados de expressividade e alma. Biokou cria essencialmente figuras humanas, muitas delas inspiradas na mitologia Vodum, nas tradições do Benim e nas actividades quotidianas da sua comunidade.
Representa guerreiros, caçadores, ferreiros, músicos, mães, trabalhadores, mas também deuses e entidades espirituais. As suas esculturas oscilam entre o realismo figurativo e a abstracção simbólica: corpos feitos de correntes, rostos formados por engrenagens, membros compostos por tubos e chapas.
O resultado é simultaneamente orgânico e mecânico — como se o homem e a máquina se fundissem num mesmo corpo ritual. Uma das presenças mais recorrentes nas suas obras é a do deus Ogum, o espírito do ferro e da guerra, venerado no panteão Vodum.
Em várias esculturas, Ogum aparece com instrumentos de forja ou armas, simbolizando tanto o poder destrutivo como a força criadora. Essa dualidade é essencial na visão de Biokou, onde o mesmo metal que serve para fabricar armas pode também ser transformado em arte.
A Representação do Quotidiano
Outra vertente do seu trabalho é a representação do quotidiano moderno africano. Biokou constrói figuras que retractam músicos de fanfarras, operários, condutores e soldados, captando o ritmo urbano e a energia das cidades africanas.
As engrenagens e correntes tornam-se símbolos desse movimento perpétuo, enquanto o ferro reciclado reflecte o espírito de sobrevivência e reinvenção que caracteriza o continente. Ao mesmo tempo, o artista mantém uma profunda ligação à tradição, incorporando nos seus trabalhos elementos que remetem para as máscaras rituais, as danças ancestrais e as cerimónias de iniciação.
A técnica de Biokou alia o improviso à precisão. Ele trabalha sem esboços detalhados, permitindo que a forma surja do diálogo directo com o material. Cada peça é construída camada a camada, soldando e ajustando as partes até atingir o equilíbrio entre força e harmonia.
As texturas rugosas e o brilho irregular do ferro conferem às esculturas uma presença quase humana. O artista prefere preservar as marcas do tempo — a ferrugem, as manchas, os cortes — como testemunho da história que o material carrega. As suas obras variam em dimensão: algumas cabem numa sala, outras ocupam espaços públicos ou galerias inteiras.
Mas todas partilham uma energia comum — a de transformar o banal em sublime. Quando vistas à distância, as esculturas impõem-se como monumentos; de perto, revelam a delicadeza dos detalhes e o engenho do artesão. Essa ambiguidade entre monumentalidade e intimismo é uma das características mais notáveis do seu estilo.
O Simbolismo de Simonet Biokou

Na obra de Simonet Biokou, a escolha do ferro reciclado transcende a mera economia de meios, configurando um gesto consciente, ético e espiritual. O ferro é um material com memória — detém peso, temperatura, som e cheiro. Foi extraído da terra, moldado pela indústria, consumido, descartado e reencontrado. Ao reutilizá-lo, o artista devolve-lhe o ciclo vital interrompido.
Cada peça de ferro é um fragmento de uma história colectiva: a história da modernidade africana, da colonização, da exploração e, crucialmente, da resistência. O simbolismo das suas esculturas está intrinsecamente ligado ao universo Vodum, onde o ferro é sagrado. Ogum, a divindade do ferro, é o guardião da tecnologia, da guerra e da criação.
Ao trabalhar com este material, Biokou não apenas homenageia Ogum, mas invoca a força espiritual que o ferro representa. As esculturas tornam-se oferendas, mediações entre o humano e o divino. O processo de soldar e fundir os metais assume o carácter de ritual: o fogo purifica, o martelo consagra e o artista transforma-se num sacerdote da matéria.
O ferro reciclado, outrora símbolo de industrialização e progresso, ganha um significado transfigurado quando fundido na forma de figuras Vodum. Biokou subverte a lógica do consumo e da obsolescência: o que o mundo descartou, ele transforma em objecto de contemplação e reverência.
É um gesto de redenção estética e espiritual, uma alquimia onde o lixo se torna memória e o fragmento se converte em testemunho. O artista propõe igualmente uma reflexão profunda sobre a tensão entre tradição e modernidade. Ao combinar formas ancestrais com materiais industriais, ele estabelece uma ponte entre dois tempos.
O Símbolo da Opressão
O ferro — que em tempos foi um instrumento colonial e de opressão — torna-se agora uma ferramenta de autonomia criativa. O ferro da guerra transforma-se em ferro de beleza. As esculturas de Biokou articulam essa reconciliação possível entre o passado e o presente, entre o que foi imposto e o que é reinventado. Há, por fim, uma leitura ecológica e política incontornável.
Ao utilizar resíduos, o artista denuncia as contradições do sistema económico mundial: África que recebe os restos do consumo global, é também o espaço onde esses resíduos são reimaginados e convertidos em cultura. O ferro reciclado torna-se símbolo de resistência à lógica do descarte e da desigualdade. A arte de Biokou demonstra que o lixo pode ser regenerado e que a beleza pode surgir da ruína.
Trajectória e Formação

Simonet Biokou, filho de ferreiro, cresceu em Porto Novo, numa imersão no trabalho artesanal e no culto ancestral. Desde tenra idade, aprendeu a observar o fogo, a medir o tempo da forja e a compreender o som do martelo sobre a bigorna. A oficina familiar funcionava simultaneamente como espaço de trabalho e templo, onde o acto de moldar o ferro se confundia com a invocação de espíritos protectores.
Durante a adolescência, o contacto directo com o ferro tornou-se uma extensão da sua identidade. O jovem Biokou auxiliava o pai a reparar ferramentas, a confeccionar utensílios agrícolas e, por vezes, a produzir pequenas peças de adorno para cerimónias.
Estes anos formativos proporcionaram-lhe uma compreensão táctil da matéria, ensinando-o a ler as suas tensões e a reconhecer o momento exacto em que o metal cede e se transforma. Esta intimidade com o material marcou profundamente a sua visão do mundo, na qual a criação artística é indissociável do trabalho manual, do esforço físico e da espiritualidade.
Nos anos 80, o Benim atravessava um período de transição política e económica, marcado pelo crescimento urbano e aumento do desemprego. Foi neste contexto que Biokou, já um artesão hábil, começou a experimentar com materiais de sucata.
O ferro abandonado nos quintais e mercados urbanos revelou-lhe um potencial inexplorado, carregando as marcas da vida moderna e o eco de antigas práticas de forja.
A Década Decisiva
A década de 90 foi decisiva para o seu percurso. Simonet Biokou uniu-se a dois primos igualmente talentosos — Calixte e Théodore Dakpogan —, também oriundos de famílias de ferreiros. Juntos, começaram a explorar a escultura metálica feita de materiais reciclados, numa época em que esta forma de arte ainda era pouco valorizada no Benim.
Os três artistas partilhavam a convicção de que a sucata podia ser tão expressiva quanto o bronze ou o mármore e que as tradições africanas de trabalho do ferro tinham muito a contribuir para a arte contemporânea.
O ponto de viragem ocorreu em 1992, com o Festival Ouidah 92, um dos eventos culturais mais importantes da história recente do Benim. O festival celebrava as raízes africanas e a religião Vodum, reconhecendo oficialmente a sua influência espiritual e artística.
Biokou apresentou as suas primeiras esculturas feitas exclusivamente de ferro reciclado que captaram a atenção pelo seu carácter híbrido: eram simultaneamente rituais e modernas, artesanais e conceptuais. A recepção foi entusiástica e o artista passou a ser considerado um dos nomes promissores da nova escultura africana.
Nos anos seguintes, o seu trabalho ganhou visibilidade internacional. Exposições em França, Bélgica e Canadá revelaram ao público europeu e americano a força simbólica das suas criações. A crítica destacou a originalidade do seu método e o poder expressivo das figuras forjadas a partir de motores, chapas e correntes.
Em Liège, na Bélgica, o Museu de Arte Contemporânea adquiriu uma das suas esculturas, tornando-o o único artista africano de ferro reciclado representado na colecção permanente da instituição — um reconhecimento raro para um criador oriundo do espaço cultural Vodum.
A Partir de 2000
A partir dos anos 2000, Biokou consolidou a sua reputação, participando em bienais e feiras internacionais, sem nunca abandonar Porto Novo. A cidade permanece o centro da sua produção e o ponto de contacto com as suas origens espirituais. O artista continua a trabalhar numa oficina de bairro, utilizando ferramentas simples e materiais encontrados localmente.
Esta fidelidade à sua terra e ao processo artesanal é uma parte essencial da sua identidade artística. O percurso de Biokou reflecte uma trajectória dupla: por um lado, o domínio técnico de uma tradição ancestral de ferreiros; por outro, a consciência crítica do mundo contemporâneo. Ele é, em certo sentido, um mediador entre dois tempos: o passado sagrado e o presente industrial.
A sua formação não académica — baseada na transmissão oral e na experiência directa — concede-lhe uma liberdade criativa que escapa às convenções do ensino ocidental da arte. Para Biokou, o ferro não é apenas um meio expressivo; é uma herança viva, um corpo que guarda a memória dos antepassados e das mãos que o moldaram ao longo dos séculos.
Hoje, Simonet Biokou é reconhecido como um dos grandes escultores do Benim e uma referência na arte africana contemporânea. O seu nome surge frequentemente ao lado de mestres da escultura de sucata do continente, como Romuald Hazoumé e os irmãos Dakpogan.
Contudo, mantém uma postura discreta e fiel à simplicidade das suas origens, trabalhando rodeado por jovens aprendizes. A estes, ensina não apenas técnicas de soldadura, mas também uma filosofia: a de que nada é verdadeiramente inútil e que a arte começa quando se aprende a escutar a matéria.
Mensagens Sociais e Ambientais

A arte de Simonet Biokou constitui uma resposta intrínseca ao mundo que o rodeia. O artista observa os resíduos da modernidade — motores inutilizados, correntes partidas, peças de automóveis — e neles vislumbra o retracto de uma sociedade em constante transformação.
Ao recolher e converter estes materiais em esculturas, realiza um duplo gesto: denuncia o desperdício e revela a possibilidade de renascimento. Socialmente, o seu trabalho evoca resistência e dignidade. As suas esculturas — firmes, densas, por vezes com um aspecto guerreiro — representam homens e mulheres que superam a adversidade.
As peças remetem tanto para os antigos ferreiros do Benim como para os operários das cidades modernas, figuras que carregam o peso do ferro e o da história. Cada soldadura é um acto de reconstrução simbólica, afirmando que, mesmo em tempos de crise, há espaço para a criação e a beleza.
A mensagem ambiental é igualmente poderosa. Ao transformar lixo industrial em arte, Biokou chama a atenção para as contradições de um sistema económico que gera abundância e descarte em vastas proporções. As suas esculturas funcionam como alertas visuais, lembrando que o planeta não suporta eternamente o custo do consumo.
Contudo, a sua crítica não se manifesta em palavras ou slogans, mas através do ferro, dos gestos e da forma, convidando à reflexão sem moralizar. No plano cultural, Biokou revitaliza o universo Vodum, actualizando os seus símbolos e demonstrando que a tradição pode dialogar com o presente. Através das suas figuras metálicas, reinscreve o espiritual na esfera contemporânea.
Divindades, espíritos e rituais surgem fundidos com peças de maquinaria, como se o mundo moderno também possuísse os seus deuses e sacrifícios. A religião Vodum, frequentemente estigmatizada fora de África, é apresentada pelo artista como património cultural e fonte de sabedoria ecológica.
A Dimensão Social
A dimensão social da sua obra manifesta-se também na sua prática laboral. No Porto Novo, Biokou emprega e forma jovens locais, oferecendo-lhes uma alternativa económica e criativa à marginalidade urbana.
A oficina transforma-se num espaço de aprendizagem e de cidadania e muitos dos seus aprendizes acabam por desenvolver os seus próprios projectos, inspirados na filosofia de reciclagem e reaproveitamento. O ferro, neste contexto, transcende o material, tornando-se um instrumento de transformação social.
O artista acredita que a arte tem o dever de dialogar com o seu tempo. As suas esculturas abordam as desigualdades, a colonização, a perda de identidade e a necessidade de reconciliação. Ao reutilizar o ferro — material associado à violência, à guerra e à exploração — Biokou converte-o em símbolo de reconstrução.
A sua mensagem é universal: da destruição pode nascer criação e da ruína pode brotar beleza. Em diversas entrevistas, Biokou tem salientado que o seu objectivo não é apenas criar obras esteticamente belas, mas provocar uma tomada de consciência.
Cada peça é um testemunho da capacidade humana de se reinventar, um lembrete de que, no Benim, quase tudo pode ser aproveitado — do ferro velho às crenças mais antigas. Esta filosofia de reaproveitamento, tão enraizada na vida africana, torna-se, nas suas mãos, linguagem estética e proposta ética.
Por fim, há uma mensagem política implícita: ao transformar os restos da industrialização — muitos deles provenientes de automóveis importados da Europa — Biokou devolve a África o protagonismo sobre a matéria.
Ele reapropria-se dos símbolos da modernidade ocidental e reconverte-os em expressão africana. O ferro, outrora símbolo de dependência económica, torna-se emblema de autonomia criativa. Assim, a sua obra é simultaneamente um ato artístico e um gesto de descolonização.
Reflexão Final

A obra de Simonet Biokou insere-se no movimento da arte africana contemporânea que reivindica a sua própria voz, livre de intermediários ou exotismos. Distinguindo-se de artistas que se adaptam às exigências do mercado internacional, Biokou trilha o seu caminho na coerência entre origem e expressão.
O ferro reciclado é o seu manifesto: duro, pesado, mas profundamente carregado de memória e de humanidade. Num mundo dominado pela cultura do descarte, o artista beninense ergue uma estética da permanência. Ele demonstra que o abandonado pode tornar-se sagrado e a ruína converter-se em símbolo de esperança.
As suas esculturas são, de certa forma, monumentos à resistência — da matéria, do espírito e da cultura. A força da sua arte reside na simplicidade do gesto: recolher, transformar, devolver. Esta tríade encerra uma lição moral e estética: recolher é reconhecer o valor do esquecido; transformar é um acto de criatividade; devolver é partilhar com a comunidade.
Biokou cumpre estas etapas com humildade e precisão, criando obras que pertencem tanto ao seu povo como ao mundo. Em feiras de arte contemporânea em Paris, Bruxelas e Montreal, as suas esculturas são apresentadas como exemplo da nova sensibilidade africana — uma arte que dialoga com a sustentabilidade, a espiritualidade e a crítica pós-colonial.
Contudo, para o próprio artista, o reconhecimento internacional é uma mera consequência; o essencial, segundo as suas palavras, é que o ferro continue a falar. Seguir o percurso de Simonet Biokou é mergulhar num universo onde a tradição se renova e o material mais rude se converte em metáfora de vida.
Criar Sem Destruir
O ferro que ele molda guarda o eco dos antigos ferreiros e o ruído dos motores urbanos; traz o peso da história e o sopro do futuro. As suas esculturas lembram-nos que a arte não se define pela nobreza dos materiais, mas pela nobreza do olhar. Num tempo em que as cidades de África enfrentam desafios ambientais graves, a sua prática é um modelo de sustentabilidade.
O artista demonstra que é possível criar sem destruir, produzir beleza a partir do reaproveitamento e fazer do ferro um símbolo de esperança. A sua obra, nascida do lixo, oferece ao mundo uma lição de economia simbólica e ecológica: nada se perde quando há imaginação e respeito pela matéria. Em última análise, Simonet Biokou é um poeta do ferro.
As suas esculturas são versos de metal, escritos com fogo e paciência que falam da condição humana, da fé e da sobrevivência. Ele transforma o descarte em arte, o ruído em silêncio contemplativo, a ferrugem em brilho. A sua mensagem é clara: o futuro da arte e talvez da humanidade, depende da capacidade de reinventar o que já existe, de reconhecer o valor do esquecido e de transformar o lixo em herança.
Conclusão
Simonet Biokou é mais do que um escultor de ferro reciclado: é um contador de histórias que usa o metal descartado como verbo, símbolo e matéria. A sua arte pega no que foi deixado para trás e eleva-o — transforma correntes em figuras de culto, engrenagens em corpos que evocam deuses, chapas metálicas em rostos que falam de África, do passado e do presente.
Num universo artístico globalizado, ele reafirma que a originalidade pode nascer da reutilização que a tradição pode reinventar-se e que o lixo deitado fora pode conter o futuro. A sua obra desafia-nos a ver o lixo de outra forma — não como fim, mas como ponto de partida.
E enquanto o mundo continua a produzir resíduos em grande escala, artistas como Biokou lembram-nos que há valor no que parecemos ignorar, histórias no que parece sem voz e beleza no que parece inútil. Em suma: a arte do lixo, quando bem feita, revela-se como uma arte de renascimento.
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Imagem: © 2025 Francisco Lopes-Santos