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Sexta-feira, Fevereiro 21, 2025

UNICEF: 100.000 Pessoas Ajudadas em Moçambique

Moçambique registou em 2024 mais de 100.000 pessoas assistidas pela UNICEF, através de intervenções de emergência médica e combate à cólera, em resposta aos efeitos devastadores das alterações climáticas e surtos de doenças.

UNICEF: 100.000 Pessoas Ajudadas em Moçambique


Moçambique enfrenta, há décadas, uma combinação perigosa de eventos climáticos extremos e surtos de doenças, panorama que se agravou em 2024. Entre Outubro de 2023 e Abril de 2024, ciclones tropicais e cheias destruíram mais de 1.800 casas, deslocaram 240 mil pessoas e deixaram um rasto de mortes e feridos.

Num contexto de recursos limitados, a intervenção da UNICEF destacou-se como um farol de esperança, oferecendo assistência médica, combate à cólera e reforço do sistema de saúde. Através de uma análise detalhada dos riscos de saúde pública ligados às alterações climáticas, a UNICEF ajudou Moçambique a criar estratégias para futuras crises.

“Este estudo vai dar prioridade a acções de preparação e resposta”.

Afirmou a agência, num relatório divulgado hoje, a que Mais Afrika teve acesso, sublinhando a necessidade de adaptação num país onde 4,9 milhões de pessoas já foram afectadas por desastres naturais entre 2019 e 2023. Os números falam por si: 61.400 pessoas receberam assistência médica de emergência, incluindo 10.315 crianças menores de cinco anos, e 41.708 casos de cólera foram tratados.

Para além das intervenções directas, a reabilitação de nove centros de saúde garantiu acesso a cuidados básicos a mais de um milhão de moçambicanos. Estas acções, porém, são apenas parte de uma batalha mais ampla contra a pobreza e a instabilidade climática.


Emergência Climática


Moçambique ocupa o quarto lugar no Índice Global de Risco Climático, um dado que explica a frequência de ciclones como o Idai (2019) e o Freddy (2023). Em 2024, a estação das chuvas trouxe novas cheias, afectando 240 mil pessoas e destruindo parcial ou totalmente 34 mil habitações.

“As casas não resistem aos ventos fortes”.

“Perdemos tudo: documentos, colheitas, até familiares”.

Relatou um sobrevivente de Sofala, província que concentra 40% das mortes por desastres naturais desde 2019. A UNICEF concentrou esforços em duas frentes: atendimento médico imediato e reconstrução de infraestruturas. Dos 61.400 beneficiários de assistência de emergência, 16% eram crianças com desnutrição aguda ou infecções respiratórias.

Equipes móveis percorreram áreas isoladas, distribuindo redes mosquiteiras, kits de higiene e suplementos vitamínicos. Paralelamente, a reabilitação de centros de saúde em Nampula e Sofala incluiu a instalação de sistemas de energia solar, garantindo o funcionamento ininterrupto durante emergências


A Guerra Contra a Cólera


Imagem © MSF (20250217) UNICEF 100.000 Pessoas Ajudadas em Moçambique

A cólera, endémica em Moçambique, explodiu em 2024 com 41.708 casos registados em oito províncias. A Zambézia, por exemplo, confirmou 31 infecções só no distrito de Mopeia, enquanto Nampula contabilizou 302 casos e 29 mortes.

“Algumas amostras são sugestivas ao vibrio cholerae”.

Explicou Isaías Marcos, médico-chefe da Zambézia, sublinhando a dificuldade de diagnóstico em zonas rurais. Para isso, a resposta da UNICEF combinou acções curativas e preventivas.

Foram montados 45 centros de tratamento especializados, onde 475 técnicos de saúde receberam formação em gestão de casos e controlo de infecções. A reidratação oral tratou 19.000 casos leves, reduzindo a taxa de mortalidade para 0,2%.

“A distribuição de 7.500 redes mosquiteiras também ajudou a conter a malária, que muitas vezes coexiste com a cólera”, destacou o relatório.


Infraestruturas que Salvam Vidas


A reconstrução de nove centros de saúde nas províncias de Sofala e Nampula foi um marco na estratégia da UNICEF. Estas unidades, agora equipadas com geradores, camas hospitalares e kits de emergência, atendem populações que antes percorriam até 50 km para receber cuidados básicos.

“Antes, partos complicados resultavam em mortes, agora temos luz e instrumentos esterilizados”, disse uma parteira de Nampula.

O impacto vai além da saúde: escolas próximas aos centros foram reabertas, e poços de água potável construídos nas redondezas reduziram a dependência de fontes contaminadas. Para comunidades rurais, onde 60% das doenças estão ligadas à água imprópria, estas intervenções significam uma mudança de vida.


Os Números da Tragédia


Imagem: © 2013 George Esiri / EPA (20250217) UNICEF 100.000 Pessoas Ajudadas em Moçambique

Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam a dimensão da crise: entre 2019 e 2023, ciclones e cheias mataram 1.016 pessoas, feriram 2.936 e deixaram 4,9 milhões de afectados. O ciclone Idai, o pior desastre, matou 403 pessoas só em Sofala e destruiu 90% da infraestrutura local.

“Precisamos de sistemas de alerta precoce e abrigos anticiclones”.

Defendeu Ambrósio Sitoe, do Ministério dos Transportes. A UNICEF respondeu com a instalação de 12 estações meteorológicas em zonas de risco, mas o desafio persiste. Sem investimento em habitação resistente e agricultura adaptada, Moçambique continuará vulnerável.


Conclusão


A intervenção da UNICEF em Moçambique em 2024 salvou milhares de vidas, mas também expôs lacunas estruturais que exigem atenção global. A combinação de assistência emergencial, combate a epidemias e reforço de infraestruturas mostrou-se eficaz, porém insuficiente face à escala das alterações climáticas.

O país precisa de parcerias duradouras para converter ajuda humanitária em desenvolvimento sustentável. Como afirmou um líder comunitário de Sofala:

“Ajuda-nos hoje, mas ensina-nos a sobreviver amanhã”.

Este é o caminho para que Moçambique deixe de ser um símbolo da vulnerabilidade e se torne um exemplo de capacidade de recuperação.

Quando será que Moçambique vai deixar de ser marterizada? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 

Imagem: © 2021 Getty Images
Francisco Lopes-Santos

Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
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