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ToggleUNICEF: 100.000 Pessoas Ajudadas em Moçambique
Moçambique enfrenta, há décadas, uma combinação perigosa de eventos climáticos extremos e surtos de doenças, panorama que se agravou em 2024. Entre Outubro de 2023 e Abril de 2024, ciclones tropicais e cheias destruíram mais de 1.800 casas, deslocaram 240 mil pessoas e deixaram um rasto de mortes e feridos.
Num contexto de recursos limitados, a intervenção da UNICEF destacou-se como um farol de esperança, oferecendo assistência médica, combate à cólera e reforço do sistema de saúde. Através de uma análise detalhada dos riscos de saúde pública ligados às alterações climáticas, a UNICEF ajudou Moçambique a criar estratégias para futuras crises.
“Este estudo vai dar prioridade a acções de preparação e resposta”.
Afirmou a agência, num relatório divulgado hoje, a que Mais Afrika teve acesso, sublinhando a necessidade de adaptação num país onde 4,9 milhões de pessoas já foram afectadas por desastres naturais entre 2019 e 2023. Os números falam por si: 61.400 pessoas receberam assistência médica de emergência, incluindo 10.315 crianças menores de cinco anos, e 41.708 casos de cólera foram tratados.
Para além das intervenções directas, a reabilitação de nove centros de saúde garantiu acesso a cuidados básicos a mais de um milhão de moçambicanos. Estas acções, porém, são apenas parte de uma batalha mais ampla contra a pobreza e a instabilidade climática.
Emergência Climática
“As casas não resistem aos ventos fortes”.
“Perdemos tudo: documentos, colheitas, até familiares”.
Relatou um sobrevivente de Sofala, província que concentra 40% das mortes por desastres naturais desde 2019. A UNICEF concentrou esforços em duas frentes: atendimento médico imediato e reconstrução de infraestruturas. Dos 61.400 beneficiários de assistência de emergência, 16% eram crianças com desnutrição aguda ou infecções respiratórias.
Equipes móveis percorreram áreas isoladas, distribuindo redes mosquiteiras, kits de higiene e suplementos vitamínicos. Paralelamente, a reabilitação de centros de saúde em Nampula e Sofala incluiu a instalação de sistemas de energia solar, garantindo o funcionamento ininterrupto durante emergências
A Guerra Contra a Cólera
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A cólera, endémica em Moçambique, explodiu em 2024 com 41.708 casos registados em oito províncias. A Zambézia, por exemplo, confirmou 31 infecções só no distrito de Mopeia, enquanto Nampula contabilizou 302 casos e 29 mortes.
“Algumas amostras são sugestivas ao vibrio cholerae”.
Explicou Isaías Marcos, médico-chefe da Zambézia, sublinhando a dificuldade de diagnóstico em zonas rurais. Para isso, a resposta da UNICEF combinou acções curativas e preventivas.
Foram montados 45 centros de tratamento especializados, onde 475 técnicos de saúde receberam formação em gestão de casos e controlo de infecções. A reidratação oral tratou 19.000 casos leves, reduzindo a taxa de mortalidade para 0,2%.
“A distribuição de 7.500 redes mosquiteiras também ajudou a conter a malária, que muitas vezes coexiste com a cólera”, destacou o relatório.
Infraestruturas que Salvam Vidas
“Antes, partos complicados resultavam em mortes, agora temos luz e instrumentos esterilizados”, disse uma parteira de Nampula.
O impacto vai além da saúde: escolas próximas aos centros foram reabertas, e poços de água potável construídos nas redondezas reduziram a dependência de fontes contaminadas. Para comunidades rurais, onde 60% das doenças estão ligadas à água imprópria, estas intervenções significam uma mudança de vida.
Os Números da Tragédia
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Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam a dimensão da crise: entre 2019 e 2023, ciclones e cheias mataram 1.016 pessoas, feriram 2.936 e deixaram 4,9 milhões de afectados. O ciclone Idai, o pior desastre, matou 403 pessoas só em Sofala e destruiu 90% da infraestrutura local.
“Precisamos de sistemas de alerta precoce e abrigos anticiclones”.
Defendeu Ambrósio Sitoe, do Ministério dos Transportes. A UNICEF respondeu com a instalação de 12 estações meteorológicas em zonas de risco, mas o desafio persiste. Sem investimento em habitação resistente e agricultura adaptada, Moçambique continuará vulnerável.
Conclusão
A intervenção da UNICEF em Moçambique em 2024 salvou milhares de vidas, mas também expôs lacunas estruturais que exigem atenção global. A combinação de assistência emergencial, combate a epidemias e reforço de infraestruturas mostrou-se eficaz, porém insuficiente face à escala das alterações climáticas.
O país precisa de parcerias duradouras para converter ajuda humanitária em desenvolvimento sustentável. Como afirmou um líder comunitário de Sofala:
“Ajuda-nos hoje, mas ensina-nos a sobreviver amanhã”.
Este é o caminho para que Moçambique deixe de ser um símbolo da vulnerabilidade e se torne um exemplo de capacidade de recuperação.
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Imagem: © 2021 Getty Images