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ToggleFestivais de África: FESTIMA A Alma De África
Já ouviste falar do Festival Internacional de Máscaras e Artes (FESTIMA)? Não? Então prepara-te para conhecer um dos eventos culturais mais fascinantes de África.
Enquanto o mundo avança e as tradições se vão diluindo, há celebrações em África que resistem com uma força singular, mantendo viva a fé e a identidade de um povo, mas, da mesma forma, outras novas vão surgindo mostrando que o continente também evolui conseguindo manter a sua ancestralidade.
Hoje, damos continuidade à nossa série de 17 artigos sobre Festivais de África, explorando um evento que preserva uma das mais antigas heranças culturais do continente. No FESTIMA, danças vibrantes e máscaras místicas dão vida a histórias ancestrais. Este evento, inaugurado em 1996, é um verdadeiro símbolo da preservação cultural e espiritual, desafiando o esquecimento imposto pela modernidade.
Realizado a cada dois anos em Fevereiro, na cidade de Dédougou, no Burkina Fasso, este festival é uma celebração da herança cultural africana, onde as máscaras, mais do que meros adereços, são pontes entre o passado e o presente, entre o mundo visível e o espiritual, simbolizando espíritos, animais, forças da natureza e forças ancestrais.
Este festival preserva uma tradição milenar e une comunidades de vários países da África Ocidental num espectáculo de cor, som e movimento.
Junta-te a nós nesta viagem pela alma da cultura africana e descobre porque é que o FESTIMA é considerado um dos festivais mais autênticos do continente africano.
O Festival
Desfiles e Danças das Máscaras
O coração do FESTIMA são os desfiles e as performances das máscaras que encantam os visitantes com danças complexas e cheias de simbolismo. Estas apresentações são acompanhadas por músicos que tocam tambores, balafons e apitos, criando um ambiente de energia intensa e espiritualidade.
Cada dança conta uma história, e em algumas ocasiões há tradutores presentes para explicar os significados por trás dos movimentos. As máscaras vêm de diferentes comunidades, cada uma trazendo as suas particularidades.
Entre os grupos étnicos mais representados estão os Bwa, Nuna, Marka e os famosos Yoruba, cujas máscaras são conhecidas pelo detalhe artístico e pelas histórias profundas que carregam.
A Arte de Criar Máscaras
Antes de chegarem aos desfiles, as máscaras passam por um processo minucioso de criação. Feitas à mão por artesãos locais, elas são esculpidas em madeira e decoradas com fibras naturais, conchas, tintas orgânicas e outros materiais encontrados na natureza. Este trabalho exige habilidade, paciência e uma ligação espiritual com o que a máscara representa.
Para muitos visitantes, uma das maiores atracções do festival é observar os artesãos a trabalhar e aprender sobre as técnicas ancestrais que eles utilizam. Alguns até participam de oficinas práticas, onde podem experimentar esculpir as suas próprias máscaras sob a orientação de mestres locais.
Exposições e Actividades Paralelas
Além dos desfiles, o FESTIMA inclui exposições de arte, competições de dança, narração de histórias, seminários culturais e um vibrante mercado de artesanato. Estes elementos tornam o festival uma experiência cultural completa, onde é possível mergulhar na história, aprender sobre as tradições e até levar um pedaço da cultura africana para casa na forma de máscaras ou outros itens artesanais.
Para as crianças, o evento oferece programas educativos que ensinam sobre a importância das máscaras e da preservação das tradições. Esta iniciativa garante que as futuras gerações continuem a valorizar e proteger este rico património cultural.
A Importância do FESTIMA
Um Património Cultural Vivo
O Festival Internacional de Máscaras e Artes (FESTIMA) é mais do que uma festa; é um evento que celebra a essência da cultura tradicional africana. As máscaras, elemento central do festival, possuem um papel profundo nas comunidades do Burkina Fasso e de outros países africanos. Elas representam espíritos ancestrais, forças da natureza ou animais que carregam significados espirituais.
Este festival é uma verdadeira vitrine da diversidade cultural africana, onde grupos étnicos como os Mossi, Bwa, Nuna e outros se reúnem para apresentar as suas máscaras e danças. Cada máscara tem uma história, cuidadosamente preservada e transmitida de geração em geração. Como afirmam os artesãos locais:
“Cada máscara é feita com a alma, ligando o artesão ao espírito que ela representa”.
Além disso, o FESTIMA desempenha um papel essencial na preservação destas tradições. Num mundo em rápida modernização, onde muitas práticas culturais estão em risco de desaparecer, este festival é uma recordação poderosa da importância de manter vivas as raízes culturais de África.
O Papel das Máscaras nas Comunidades
No contexto africano, as máscaras são muito mais do que simples objectos ou adereços de dança. Ao serem trazidas para o festival, carregam consigo histórias e significados que extravasam a sua beleza estética.
Muitas vezes ligado ao animismo e às crenças ancestrais que são ainda praticadas em algumas comunidades africanas, desempenham papéis espirituais e sociais importantes e possuem um significado profundo, simbolizam espíritos dos antepassados, forças da natureza ou animais que desempenham papéis espirituais ou mitológicos.
Historicamente, as máscaras são utilizadas em cerimónias religiosas, celebrações das colheitas, rituais de iniciação e até funerais, funcionando como uma ponte entre o mundo físico e o espiritual. Durante estas cerimónias, os dançarinos que as utilizam tornam-se, para os crentes, os próprios espíritos que representam, comunicando mensagens e trazendo bênçãos ou advertências para a comunidade.
Embora o animismo tenha perdido espaço para outras religiões no Burkina Fasso, como o islamismo e o cristianismo, o FESTIMA tem sido essencial para preservar e valorizar o papel cultural das máscaras. Como explicou Ki Léonce, director executivo da Associação para a Protecção das Máscaras (ASAMA):
“As máscaras possuem duas dimensões: a do culto e a da cultura”.
“Mesmo para aqueles que não as veneram religiosamente, elas permanecem culturalmente significativas”.
Preservação e Modernidade
As máscaras, antes restritas a contextos rituais, enfrentam o desafio de se manterem relevantes num mundo cada vez mais globalizado. A modernidade e a urbanização levaram muitas comunidades a abandonarem estas práticas.
No entanto, o FESTIMA emerge como uma resposta directa a essa ameaça, transformando as máscaras em ícones culturais que continuam a educar e a inspirar, mesmo fora do seu contexto original.
A Importância do FESTIMA
Preservação de Tradições
O FESTIMA destaca-se como um dos maiores esforços de preservação cultural em África. Ao reunir diferentes comunidades e promover o intercâmbio cultural, o festival fortalece as tradições que, de outra forma, poderiam ser esquecidas.
Também vai além do Burkina Fasso. É um ponto de encontro para comunidades de toda a África Ocidental, incluindo países como o Benim, a Costa do Marfim, o Mali, o Togo e o Senegal. Durante os dias do festival, Dedougou torna-se uma verdadeira capital cultural, onde diferentes tradições se cruzam e se complementam, tal como afirmou um dos organizadores:
“Este festival não é apenas para o Burkina Fasso, aqui, mostramos ao mundo, a riqueza das nossas tradições”.
Este intercâmbio cultural fortalece os laços entre as comunidades, promovendo um sentimento de unidade e orgulho pela herança africana. É comum ouvir os participantes dizerem que:
“O FESTIMA não pertence a um único país africano, pertence a toda a África”.
Educação e Sustentabilidade Cultural
O festival é organizado pela Associação para a Proteção das Máscaras (ASAMA), fundada em 1996 com o objectivo de preservar estas tradições. Além de promover o intercâmbio cultural, a ASAMA utiliza o FESTIMA como uma plataforma para educar o público sobre a importância das máscaras e do património imaterial.
Os seminários e oficinas realizadas durante o evento são uma forma de envolver tanto os habitantes locais, como os turistas, garantindo que este conhecimento milenar seja partilhado e valorizado.
Impacto Económico e Social
O FESTIMA também tem um impacto positivo na economia local. A chegada de turistas – mais de 2.000 em algumas edições – beneficia os artesãos, comerciantes e donos de negócios em Dedougou. Além disso, ao destacar a relevância cultural das máscaras, o festival ajuda a aumentar a procura por artesanato tradicional, criando oportunidades económicas para as comunidades rurais.
Conclusão
O FESTIMA é muito mais do que uma celebração cultural; é um testemunho vivo da riqueza e diversidade do património africano. Com máscaras que contam histórias ancestrais, danças que encantam o público e um espírito de união entre comunidades, o FESTIMA representa a força das tradições na construção de uma identidade cultural partilhada.
Ao preservar estas práticas e promovê-las num mundo moderno, o FESTIMA mostra que a tradição e a inovação podem coexistir. É um evento que inspira todos os que o visitam, permitido que as futuras gerações continuem a carregar esta rica herança.
Se procuras mergulhar na essência da cultura africana e testemunhar a beleza das máscaras em toda a sua glória, não percas a próxima edição do FESTIMA. Descobre como a arte, a espiritualidade e a comunidade se entrelaçam neste festival único. Afinal, como se diz em África:
“As máscaras não falam, mas contam histórias que todos precisam de ouvir”.
Já conhecias o FESTIMA? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © DR