5 Mitos sobre as Agojie no filme The Woman King.
O blockbuster de Hollywood recém-lançado, The Woman King que retrata as Agojie e que mereceu um artigo nesta revista quando foi lançado, supostamente retracta factos verídicos da civilização da África Ocidental do Reino do Daomé, que existiu de 1600 a 1904.
O filme segue o modelo apresentado em 2018, com o épico Pantera Negra, cujo sucesso foi impulsionado por um elenco quase todo negro e baseado fortemente na cultura africana.
O Filme
Passado em 1800, o filme segue a história da unidade de combate feminina chamada Agojie. Os Agojie foram um clã de guerreiros femininas que juraram defender o Reino de Daomé. Diante de uma nova ameaça, o general Nanisca é forçado a treinar uma nova geração de Agojie para combater os invasores ocidentais que desejam acabar com modo de vida e a liberdade do Reino
Embora a narrativa deste filme seja bastante admirável o filme está longe de ser factual. Desde o lançamento do trailer do filme, o projeto tem sido envolto em controvérsia, com muitos preferindo que seja chamado de obra de ficção em vez de uma história baseada em eventos reais da vida.
Sim, os Agojie existiam, e sim, eles eram uma unidade de combate feroz elogiada pelar sua bravura pelos colonizadores europeus, mas o que eles eram, na realidade, dificilmente era heroico ou fortalecedor, de facto, o Daomé e, por extensão, os Agojie, na realidade, têm uma história desconcertante.
Por isso, as supostas realidades do filme não passam de mitos embelezados por Hollywood que pouco ou nada tem a ver com o que realmente se passou. Vamos por isso, expor aqui neste artigo os 5 aspectos fundamentais retratados no filme.
O Reino de Daomé
O Reino do Daomé, situava-se no território onde fica hoje o Benim. Foi um reino africano que floresceu entre os anos 1600 e 1904, altura em que o último Rei, Beanzim, foi derrotado pelos franceses e o país foi anexado ao império colonial francês.
Surgiu por volta de 1600, fundado pelos Fons que se haviam estabelecido no platô de Abomei. O rei fundador do Daomé foi Uebajá (c. 1645-1685) que construiu os Palácios Reais de Abomei e começou a invadir e ocupar cidades vizinhas dando origem a fundação do reino.
Durante grande parte dos séculos XVIII e XIX, o Reino do Daomé foi um estado regional importante, acabando com o estatuto de tributário do Império de Oió. Era uma importante potência regional que possuía uma economia doméstica organizada, baseada na conquista e no trabalho escravo.
O Reino de Daomé, foi dos primeiros reinos do mundo a internacional o comércio de escravos, mantendo contacto significativo com europeus. A administração era centralizada, tinha um sistemas tributários e forças armadas organizadas.
Um dos factos mais notáveis no reino era a existência de uma unidade militar feminina que se denominava Ahosi, tendo ficado conhecida pelas “Amazonas do Daomé”.
Eram práticas formas religiosas elaboradas durante o ano que culminavam com o grande festival da Alfândega anual do Daomé que envolvia sacrifícios humanos em larga escala. Durante esse festival, era habitual trocaram prisioneiros capturados durante as guerras e os ataques efetuados ao longo do ano.
Os Mitos do Filme
- Reino anti escravatura:
- Talvez o fato mais mal interpretado sobre o povo do Daomé no filme, sejam os seus ideais de liberdade e a luta contra a escravatura.
- No filme eles lutaram contra os invasores ocidentais que queriam tirar a sua liberdade e impor a escravatura, mas a verdade foi a inversa, pois eles lutaram contra as forças francesas que estavam a tentar com que o Reino do Daomé, abolisse a escravatura.
- Na realidade, o povo do Daomé, não só foi um dos principais actores do comércio transatlântico de escravos (foram eles que internacionalizaram a escravatura e não os Portugueses, como muita gente pensa), como também eram proprietários de escravos e praticavam raides de captura em que a palavra de ordem era, submetam-se ou sejam exterminados.
- Derrota rápida:
- Outra narrativa exagerada no filme é o fato de que os Agojie resistiram ferozmente aos invasores estrangeiros.
- De acordo com a história registada, isso está longe de ser um facto, pois os Agojie foram derrotados rapidamente, pelos militares franceses.
- O exército Agojie era constituído por 6.000 soldados e foram reduzidas para cerca de 1.200 em questão de horas para ser exacto.
- No entanto, é um facto que eles eram uma grande força de combate na região, pois desfrutaram de grande sucesso, por mais de um século, tendo resistido estoicamente ao poderoso império de Oío.
- Mais vilões do que heróis:
- Na realidade, o Reino do Daomé era mais vilão do que heroico. As suas práticas, são o material de que são feitos os pesadelos.
- No filme, foram retratados como um povo decente, com um belo modo de vida, mas na realidade, eles viviam pelo código de escravizar ou serem escravizados. Eram conhecidos por queimar aldeias inteiras e voltar para casa com as cabeças e os genitais decapitados dos seus inimigos, enriquecendo o reino através da escravidão e do tráfico de escravos.
- Existem relatos de que eles bebiam o sangue dos seus inimigos, realizavam sacrifícios humanos e escravizando crianças.
- O amor de Nawi:
- No filme, a personagem Nawi, uma jovem Agojie, é retratado como apaixonada por um traficante de escravos meio daomé/meio português. Este ponto da trama é historicamente improvável, pois os Agojie eram oficialmente os Ahosi (ou seja, as esposas do rei).
- Além disso, os relatos históricos apontam para que as guerreiras Agojie se referiam a si próprias como homens, como tal, a história de uma aventura romântica entre uma Agojie e um ocidental parece difícil de imaginar.
- A idade de Nanisca:
- Um relato histórico aponta Nanisca, como sendo uma adolescente e não uma mulher de meia-idade como o filme retrata.
- Um explorador ocidental escreveu uma história em que uma vez se deparou com uma jovem líder das Agojie chamado Nanisca. Talvez tenha sido este relato a inspiração para a versão cinematográfica da personagem.
O que achas desta história das Agojie? Conhecias o Reino do Daomé? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © DR