Povos de África: Os Pigmeus da África Central.
Conhece os Pigmeus da África Central? Não? Então vai ficar a conhecer.
África é um dos continentes com alguns povos que ainda mantêm as suas culturas intactas, ou quase.
Hoje, continuamos a série de vários artigos, sobre alguns destes povos de África (mas muito poucos) que conseguiram preservar as suas culturas intactas durante séculos.
Em áreas remotas e planícies ricas do continente, existem grupos de pessoas que continuam a viver pacificamente, sem depender de nenhuma das invenções que o mundo moderno tanto valoriza.
Trazemos aos nossos leitores algumas dessas comunidades cujas tradições, costumes e modo de vida têm resistido surpreendentemente ao teste do tempo e à força arrebatadora da modernização.
Embora discutível para uns, não podemos deixar de reconhecer a coragem dos que continuam a viver da maneira que os seus antepassados viveram há gerações.
Os Pigmeus
Existem povos chamados Pigmeus – devido à sua baixa estatura – na África Central, bem como em partes do sudeste da Ásia, mais precisamente nas Filipinas e na Nova Guiné.
Hoje trazemos os Pigmeus africanos.
Este Povo de grande coragem manteve quase intacta a própria cultura de acordo com as suas próprias crenças, tradições e línguas, apesar da interação com povos vizinhos e várias colonizações.
Os pigmeus têm sido alvo ao longo da história de discriminações vindas dos Estados dos quais são cidadãos e dos seus próprios vizinhos e compatriotas que por vezes os consideram de “sub-humanos”.
Os termos, “habitantes da floresta” e “povo da floresta” também têm sido usados, mas, por falta de alternativa, “pigmeu” continua sendo o termo predominante usado.
Antiguidade
Os Pigmeus são considerados um dos primeiros habitantes do continente africano. A primeira referência aos Pigmeus está inscrita na tumba de Harkuf, um explorador do jovem Faraó Pepi II do Egito Antigo.
O texto é de uma carta enviada de Pepi para Harkuf por volta de 2250 AC, que descreveu o deleite do menino-rei ao ouvir que Harkuf traria de volta um Pigmeu de sua expedição, pedindo-lhe que tomasse cuidado especial, exclamando: “Minha Majestade anseia por ver este Pigmeu mais do que todo o tesouro do Sinai! “
Também são feitas referências a um Pigmeu trazido para o Egito durante o reinado do Faraó Isesi, aproximadamente 2450 AC.
A floresta tropical africana é o lar dos “pigmeus”. Embora o termo ‘Pigmeu’ costumasse ser depreciativo, foi reivindicado pelos Pigmeus como um termo de identidade e de orgulho.
Este Povo consiste de grupos distintos, mas indistinguíveis que vivem nas florestas tropicais em toda a África Central e têm uma conexão íntima com as mesmas.
O Povo
O Povo Pigmeu é formado pelos Mbuti (República Democrática do Congo), Aka (República Centro-Africana), Baka (Sul dos Camarões) e também pelos Twa (Ruanda e Burundi) estimados em cerca de 200.000.
Uma parte essencial da identidade do Povo Pigmeu é a floresta, na qual viveram durante séculos. A floresta não é apenas o seu lar tradicional, mas é também a fonte da sua religião e meio de vida.
Antes das suas vidas serem interrompidas violentamente pelo deslocamento os pigmeus viviam um estilo de vida nómade feliz, mudando-se para novas partes da floresta várias vezes por ano.
Infelizmente, os Pigmeus correm um risco muito real de perder totalmente a sua casa, a floresta e, consequentemente, a sua identidade cultural, já que a floresta é sistematicamente desmatada por madeireiras.
Em algumas situações, como na República Democrática do Congo, existe uma triste ironia: a guerra civil que criou há décadas um ambiente perigoso para os Pigmeus foi também a razão pela qual os madeireiros se têm mantido à distância.
No entanto e sempre que se cria uma situação mais pacífica, as madeireiras julgam a área segura para entrar e destruir a floresta, obrigando os Pigmeus nela residentes a deixarem as suas casas e o ambiente que lhes dá sentido de identidade cultural e espiritual.
Para nós que tivemos o imenso privilégio de ver e observar Pigmeus na República Centro Africana e no Ruanda, ficou-nos gravada a imagem de pessoas delicadas, observadoras, corajosas e altaneiras.
Cultura Musical Única
Os Pigmeus africanos são altamente reconhecidos pela riqueza e singularidade da sua música, que é fundamental para a sua expressão cultural e identidade. Utilizam uma variedade de instrumentos musicais, mas é a voz humana que ocupa o centro das suas performances musicais.
A polifonia vocal, uma técnica que envolve múltiplas vozes a cantar em harmonia, é uma característica marcante da sua música. Muitas das suas canções replicam os sons da floresta, criando uma sinfonia natural que reflete a sua profunda ligação com o meio ambiente.
A música acompanha todas as atividades da vida dos Pigmeus, desde o nascimento até a morte. Danças e canções são também uma parte integrante dos seus rituais e celebrações, ajudando a contar as histórias do povo e a transmitir o seu conhecimento e tradições de geração em geração.
É notável como a música dos Pigmeus tem influenciado diversos músicos ocidentais, que se encantam com a sua singular polifonia.
A Caça Entre os Pigmeus
A caça é uma atividade essencial na vida dos Pigmeus, não apenas como meio de subsistência, mas também como um importante componente cultural e espiritual. Eles desenvolveram ao longo dos séculos diversas técnicas de caça que lhes permitem sobreviver na densa floresta tropical.
A caça é muitas vezes realizada em grupo, reforçando os laços comunitários e promovendo a cooperação entre os membros do povo.
Um aspecto interessante da caça dos Pigmeus é a sua relação simbiótica com os elefantes da floresta. Alguns grupos têm mostrado habilidades notáveis em comunicar e cooperar com estes animais, utilizando-os para derrubar árvores e aceder a alimentos que de outra forma estariam fora do seu alcance.
Esta convivência entre Pigmeus e elefantes é uma demonstração do respeito que este povo tem pela natureza e por todos os seus habitantes.
Choque Com a Modernidade
As condições de vida dos Pigmeus têm vindo a despertar a atenção de várias organizações governamentais e não governamentais, que têm realizado esforços para proteger os seus direitos e melhorar a sua qualidade de vida. Várias organizações internacionais têm se concentrado em assegurar os direitos dos Pigmeus à terra, à saúde, à educação e a um ambiente livre de discriminação.
No entanto, apesar desses esforços, muitas das políticas implementadas pelos governos locais não têm sido eficazes, em grande parte devido à falta de envolvimento da comunidade Pigmeu e ao respeito insuficiente pela sua cultura e modo de vida.
É crucial que as organizações governamentais e não governamentais envolvam os Pigmeus na elaboração de políticas que os afetem diretamente, a fim de garantir que as suas necessidades e direitos sejam atendidos de forma adequada.
Pressão do Desenvolvimento
A pressão do desenvolvimento e a exploração das florestas tropicais tem tido um impacto devastador sobre os Pigmeus. A destruição do seu habitat tradicional tem deslocado muitas comunidades Pigmeus, forçando-os a adaptar-se a novos ambientes e estilos de vida, muitas vezes com efeitos prejudiciais para a sua saúde e bem-estar.
A exploração madeireira e a mineração têm destruído vastas áreas de floresta, privando os Pigmeus de recursos essenciais para a sua subsistência. Além disso, o estabelecimento de parques nacionais e áreas protegidas, embora benéfico para a conservação da biodiversidade, muitas vezes tem restringido o acesso dos Pigmeus às suas terras tradicionais, afetando o seu modo de vida.
Acesso à Educação
As crianças Pigmeus enfrentam inúmeros desafios no seu dia-a-dia, um dos quais é o acesso à educação formal. Embora os governos de alguns países africanos tenham tomado medidas para aumentar a escolaridade entre os Pigmeus, ainda há muito a fazer.
A localização remota das suas comunidades e a falta de transporte são obstáculos significativos. Além disso, o currículo escolar raramente reflete a cultura e a realidade dos Pigmeus, dificultando o envolvimento e o interesse das crianças.
Outro problema que as crianças Pigmeus enfrentam é a discriminação e o bullying devido à sua etnia e estilo de vida. O preconceito e a marginalização podem levar a problemas de autoestima e a um desempenho académico inferior.
Vários projetos e iniciativas estão a ser desenvolvidos com o objetivo de melhorar o acesso à educação para estas crianças, mas a estrada é longa e cheia de desafios. A educação é um direito fundamental e, sem ela, as crianças Pigmeus têm menos chances de melhorar as suas vidas e de lutar contra a discriminação e a marginalização que enfrentam.
Conclusão
A sobrevivência dos Pigmeus, enquanto povo, está intimamente ligada à sobrevivência da floresta. As ameaças ao seu modo de vida, tanto externas quanto internas, precisam ser enfrentadas para assegurar a sua continuidade como povo único e fascinante.
Há um grande trabalho a ser feito, mas com respeito, compreensão e esforço conjunto, podemos esperar que este povo antigo prospere e continue a enriquecer o mundo com a sua rica cultura e profundo conhecimento da natureza.
O que achas da história dos Pigmeus? Queremos saber a tua opinião, a tua interação é crucial para continuarmos a fornecer conteúdo relevante. Por isso, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto” e, claro, continua a seguir a nossa série de artigos sobre os Povos de África.
Ver Também:
Povos de África: Os Massai, o Fascínio de África
Povos de África: Turkana, os sobreviventes
Povos de África: Os Tuaregues, os Guerreiros do Saara
Povos de África: Conheça os Wodaabe do Níger e Chade
Povos de África: Conheça os Himba da Namíbia
Povos de África: Conheça os Dogon do Mali
Povos de África: Os Kara do Rio Omo
Imagem: © DR