Povos de África: Conheça os Himba da Namíbia.
Conhece os Himba da Namíbia? Não? Então vai ficar a conhecer.
África é um dos continentes com alguns povos que ainda mantêm as suas culturas intactas, ou quase.
Hoje, continuamos a série de vários artigos, sobre alguns destes povos de África (mas muito poucos) que conseguiram preservar as suas culturas intactas durante séculos.
Em áreas remotas e planícies ricas do continente, existem grupos de pessoas que continuam a viver pacificamente, sem depender de nenhuma das invenções que o mundo moderno tanto valoriza.
Trazemos aos nossos leitores algumas dessas comunidades cujas tradições, costumes e modo de vida têm resistido surpreendentemente ao teste do tempo e à força arrebatadora da modernização.
Embora discutível para uns, não podemos deixar de reconhecer a coragem dos que continuam a viver da maneira que os seus antepassados viveram há gerações.
Os Himba
A existência da tribo Himba remonta ao início do século XVI, quando migraram para o sul, cruzando a fronteira de Angola e se estabeleceram em Kaokoland (hoje conhecido como Kunene), onde vivem nos assentamentos dispersos da região, permanecendo fiéis às suas tradições e costumes de séculos.
Nessa época, ainda se identificavam como parte dos Herero, dos quais se separaram após uma epidemia bovina no final do século XIX, dando origem à identidade Himba.
Uma particularidade desse povo nessa altura, era o facto de usarem um sistema matriarcal, ou seja, quem mandava eram as mulheres e eram elas as donas das casas, dos filhos, do gado e de todos os apetrechos existentes na aldeia. Os homens limitavam-se a guardar o gado e a procriar, sendo as mulheres a fazer tudo o resto.
Hoje existem aproximadamente 30.000 a 50.000 membros deste grupo seminómada que se deslocam de acordo com o melhor local para pastagem do gado. Porém, geralmente retornam às mesmas aldeias todo ano.
Tradições e Costumes
As casas tradicionais dos Himba são estruturas arredondadas feitas de barro e esterco de vaca. Não é por acaso, já que essa mistura, ameniza a temperatura durante o dia e mantem o calor para as noites que são muito frias. A variação de temperatura nessa região é enorme, chegando aos 45 graus no verão e à sensação de congelamento no inverno.
A saudação tradicional utilizada é um aperto de mão, acompanhado com a frase “Moro, Perivi, Nawa” que significa respectivamente “Olá, Tudo bem? Bem!”. O idioma utilizado é o otjiherero, uma língua nígero-congolesa, falada pelos hereros na Namíbia, Angola e Botsuana.
Um dos traços mais marcantes da tribo Himba é o facto de as mulheres não poderem usar água para se lavarem. O hábito remonta às grandes secas que assolavam os antepassados, por isso a limpeza corporal é feita através do “banho diário de fumo”.
Elas colocam um pouco de carvão em uma pequena tigela de ervas e esperam que o fumo comece a subir, então curvam-se sobre a tigela e, devido ao calor, começam a transpirar. Para que a “lavagem” seja mais profunda, cobrem-se com um cobertor.
Homens e mulheres usam tanga de couro macio. As mulheres Himba são famosas pelos seus estilos de cabelo únicos e usam “otjize” – uma pasta de ocre vermelho, manteiga e gordura – que espalham no cabelo e na pele, fazendo os seus corpos brilharem de beleza.
Desde a puberdade, as mulheres trançam os cabelos e passam a aplicar essa pasta em todo o corpo, dando-lhes um tom avermelhado marcante. O “otjize” também protege a pele do sol, mas esta tradição é feita essencialmente por razões estéticas.
Há ainda o significado simbólico, unindo o vermelho da terra e do sangue que é o símbolo da vida.
O Deus Mukuru
A fé e a religiosidade constituem um pilar essencial na vida do povo Himba. A crença em Mukuru, a divindade suprema na sua cosmovisão, desempenha um papel central no seu quotidiano e na sua compreensão do mundo.
Mukuru é reverenciado como um ser supremo, uma força transcendental que governa todos os aspectos da vida. No entanto, a comunicação direta com Mukuru é considerada um privilégio reservado aos antepassados que, após a morte, se transformam em espíritos intermediários entre o povo Himba e Mukuru.
Para manter esta ligação espiritual viva, os Himba cultivam o “okuruwo“, o fogo sagrado, elemento que simboliza a presença constante de Mukuru e dos antepassados na comunidade. Este fogo é mantido aceso de forma contínua, sendo considerado o coração espiritual de cada aldeia Himba.
Através do “okuruwo“, os Himba realizam rituais e cerimónias que honram os seus antepassados e pedem a intercessão deles junto a Mukuru. Estes rituais são momentos de profunda ligação com o divino, nos quais expressam os seus anseios, agradecimentos e pedidos de proteção e bênçãos.
Cada aspecto da vida dos Himba é permeado pela sua fé. Mesmo diante do ambiente desafiador do deserto em que habitam, conseguem manter vivas as suas tradições e sobreviver em comunidades relativamente isoladas. A sua resistência é, sem dúvida, reforçada pela sua profunda crença em Mukuru e pelo respeito às tradições ancestrais.
É interessante notar como a religião dos Himba reflete a sua profunda ligação com a natureza e a sua adaptação ao ambiente hostil em que vivem. Através da sua fé, encontram significado e propósito, mantendo uma harmonia com o mundo natural que os rodeia, numa demonstração de respeito e reverência pela criação divina.
O fogo sagrado “okuruwo“, a presença constante de Mukuru e a intercessão dos antepassados formam, assim, o cerne da espiritualidade Himba, uma herança que passa de geração em geração, mantendo viva a chama da sua identidade cultural.
Os Desafios Actuais dos Himba
Apesar da sua história marcada por provações, o povo Himba tem demonstrado uma resistência notável. No início do século XX, mais precisamente em 1904, foram vítimas de um genocídio brutal, perpetrado pelos colonizadores e pelo exército alemão, um evento que deixou cicatrizes profundas na memória coletiva dos Himba.
No entanto, o presente traz consigo novos desafios. Com o avanço da modernização e da globalização, o modo de vida tradicional dos Himba está cada vez mais sob pressão. Influências externas, como o turismo, o avanço de infraestruturas e o acesso à tecnologia, têm gerado impactos significativos na sua cultura e nos seus costumes.
Por um lado, a exposição ao mundo exterior tem trazido benefícios, como o acesso a cuidados de saúde, educação e bens materiais. Por outro lado, essa mesma exposição tem ameaçado a preservação das tradições ancestrais, provocando um choque cultural que tem levado muitos Himba a ponderar a continuação das suas tradições ancestrais.
Outro desafio enfrentado pelos Himba é a exploração dos seus territórios por empresas de exploração mineira e a consequente ameaça à subsistência das suas comunidades. A luta pelos direitos territoriais e pela preservação do meio ambiente é uma questão crucial para este povo que depende diretamente da terra e dos seus recursos para a sua sobrevivência.
Apesar destes desafios, os Himba têm demonstrado uma sobrevivência incrível. A sua capacidade de resistir e adaptar-se, mantendo ao mesmo tempo a sua identidade cultural e as suas tradições, é um testemunho do seu espírito indomável.
Este equilíbrio delicado entre a preservação do passado e a adaptação ao presente é um tema que suscita discussões, mas que atesta a força e a determinação deste povo extraordinário. A história dos Himba, é por isso, um exemplo vivo de que a cultura e as tradições de um povo podem sobreviver, mesmo diante dos desafios mais imponentes.
No entanto, a questão permanece: como podem os Himba, e outros povos indígenas, proteger a sua herança cultural num mundo em constante mudança? Esta é uma reflexão necessária para todos nós, pois a diversidade cultural é um património que enriquece toda a humanidade.
Conclusão
Ao longo dos séculos, os Himba têm demonstrado uma capacidade notável de resistir e adaptar-se às adversidades, sem nunca se afastarem das suas tradições profundamente enraizadas.
Este povo, apesar dos desafios impostos pela modernidade – como o crescimento do turismo, a expansão das infraestruturas, e a exploração dos seus territórios – procura um equilíbrio entre preservar a sua cultura e adaptar-se a um mundo em constante mudança.
A história dos Himba é uma lição de resistência e perseverança, um lembrete da importância da diversidade cultural e do respeito pelas diferentes formas de vida. Este povo permanece como um farol de tradição num mundo globalizado, continuando a escrever a sua história com coragem e determinação, enquanto enfrenta os desafios da modernidade.
A sua saga é uma inspiração, uma prova viva de que é possível preservar as nossas raízes sem deixar de olhar para o futuro.
Espero que esteja a gostar desta nossa jornada pelo fascinante universo dos povos de África. Acompanhe-nos nesta descoberta, onde cada artigo revelará mais sobre as suas tradições e a sua rica cultura. Até ao próximo artigo!
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