Agressão e Detenção Arbitrária

Segundo Yuval Abraham, co-realizador do documentário, Ballal foi cercado por um grupo de colonos israelitas que lançaram pedras contra a sua casa num ataque violento e, posteriormente, foi agredido na cabeça e no estômago até sangrar.

Apesar dos ferimentos, Ballal não recebeu assistência médica, pelo contrário, quando a ambulância chegou para o socorrer, os soldados israelitas invadiram o veículo e levaram-no sob custódia, algemado e vendado.

A advogada Leah Tsemel confirmou que o realizador Ballal esteve algemado e vendado durante toda a noite numa base militar, onde foi alvo de espancamento por parte de dois soldados e, neste momento, permanece detido na esquadra de Kiryat Arba, sem acesso a cuidados médicos. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina já exigiu a sua libertação imediata.

O jornalista Basel Adra, também co-realizador de “No Other Land”, presenciou a captura de Hamdan Ballal. Adra relatou que, no momento da detenção, um grupo de colonos mantinha-se nas imediações da casa do realizador a atirar pedras.

Cinco activistas americanos, do Centro para a Não-Violência Judaica (CJNV) que estavam na área, foram igualmente atacados por cerca de 20 colonos armados com bastões, facas e uma espingarda. Jenna, uma das activistas, afirmou que o grupo tentou fugir, mas foi cercado e agredido. Os veículos foram vandalizados, os vidros quebrados e os pneus furados.

Segundo Josh Kimelman, outro activista americano, os soldados israelitas não só não impediram os ataques como permitiram que continuassem e assistiram a todos os ataques sem intervir, deixando claro o seu apoio às ações dos colonos.

Violência como Retaliação

Hamdan Ballal e Basel Adra já haviam denunciado várias ameaças de colonos israelitas, especialmente após o reconhecimento mundial de “No Other Land” nos Óscares. O documentário denuncia a expulsão de palestinianos da zona de Massafer Yatta, na Cisjordânia ocupada, uma região declarada “área militar” por Israel, onde as autoridades têm demolido as habitações palestinianas.

O próprio Hamdan Ballal relatou que a sua quinta tem sido alvo de ataques constantes, uma tentativa de o forçar a abandonar as suas terras. Basel Adra confirmou que desde a vitória nos Óscares, os ataques intensificaram-se.

“Parece uma vingança pelo filme. É como um castigo”.

O governo israelita, por sua vez, minimizou os acontecimentos. O Ministro da Cultura de Israel, numa clara rejeição à narrativa apresentada no filme, descreveu a vitória do documentário como:

“Um momento triste para o mundo do cinema”.

Reacção Internacional

As organizações de direitos humanos no local condenaram a agressão contra Hamdan Ballal e os activistas americanos e apelaram à ONU e às potências mundiais para intervir. A ocupação israelita da Cisjordânia é considerada ilegal pelo direito internacional, mas a violência contra os palestinianos continua impune.

A ONU reiterou que a ocupação da Cisjordânia viola tratados internacionais, enquanto a União Europeia exigiu “investigações transparentes”. No entanto, Israel mantém-se firme na sua posição, controlando a narrativa e ignorando as críticas internacionais.

Segundo a Amnistia Internacional, só no ano de 2024 foram registados 478 ataques de colonos israelitas contra palestinianos na Cisjordânia.

Conclusão

O caso de Hamdan Ballal reflecte um padrão de violência contra os palestinianos sob ocupação israelita na Cisjordânia e não só. A agressão e detenção arbitrária de um cineasta reconhecido mundialmente evidenciam a impunidade das forças de Israel na região.