Confrontos mortais no Sudão: 60 civis mortos.
Os confrontos iniciados este sábado, 15 de Abril de 2023, entre o Exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF), já causaram a morte de 60 civis, segundo um novo balanço divulgado hoje pelo Sindicato dos Médicos do Sudão. O anterior balanço apontava para 26 mortos e 103 feridos.
A mesma fonte adiantou que há a registar dezenas de mortes entre as forças de segurança. As mortes ocorreram por todo o país, incluindo na capital, Cartum, e Omdurman, disse o Sindicato dos Médicos do Sudão.
Três funcionários da ONU no Sudão morreram em Darfur em meio aos confrontos entre o Exército e as forças paramilitares, segundo o chefe da missão da ONU no país, Volker Perthes.
O Programa Alimentar da ONU anunciou a suspensão temporária de todas as operações no Sudão devido à situação de segurança.
A violência surge após meses de tensões crescentes entre as forças armadas e as forças paramilitares RSF que foram antecedidas de anos de agitação política, desde o golpe militar de outubro de 2021 no país. O que conduz ao receio de um conflito mais vasto, uma vez que os combates continuam.
Transição democrática abalada
Os combates, dão um novo golpe na esperança de uma transição para a democracia. Os confrontos sucederam a meses de tensões acrescidas entre as Forças Armadas do Sudão e as RSF, que já tinham atrasado um acordo com os partidos políticos para que o país voltasse à curta transição para a democracia, que descarrilou com um golpe militar em Outubro de 2021.
Os combates eclodiram no início do dia. Testemunhas disseram que ambos os lados dispararam de veículos blindados e de metralhadoras montadas em camiões em áreas densamente povoadas. Alguns tanques foram vistos em Cartum. Os militares disseram ter lançado ataques a partir de aviões e drones em posições das RSF dentro e em redor da capital.
Ao cair da noite, os residentes disseram que ainda ouviam os sons de tiros e explosões em diferentes partes de Cartum, incluindo ao redor do quartel-general dos militares e de outras bases. Um dos pontos de fortes dos confrontos foi o Aeroporto Internacional de Cartum.
Não houve qualquer anúncio formal de que o aeroporto estava fechado, mas as principais companhias aéreas suspenderam os voos.
Tensões entre facções militares
A crescente tensão entre o Exército do Sudão e as RSF tem as suas raízes na luta pelo poder que se seguiu à queda do ditador de longa data, Omar al-Bashir, em 2019. As RSF, lideradas por Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido como Hemeti, foram inicialmente aliadas do Exército sudanês na remoção de al-Bashir do poder. No entanto, desde então, a relação entre as duas facções deteriorou-se.
As RSF são amplamente conhecidas pelos seus abusos aos direitos humanos e o seu envolvimento em conflitos violentos no Darfur, na região ocidental do Sudão. A crescente influência das RSF no governo sudanês tem sido motivo de preocupação tanto a nível nacional como internacional.
O recente agravamento da violência no Sudão coloca em risco o já frágil processo de transição democrática no país e aumenta a possibilidade de uma escalada do conflito. A estabilidade da região e o futuro do Sudão como um Estado democrático dependem da capacidade das facções rivais em encontrar uma solução pacífica e inclusiva para suas disputas.
O Sudão precisa de um governo de unidade nacional que inclua todas as partes interessadas e que trabalhe em conjunto para enfrentar os desafios económicos, sociais e políticos que o país enfrenta. A comunidade internacional deve continuar a apoiar os esforços de paz e a transição democrática no Sudão, garantindo que os direitos humanos e o Estado de Direito sejam respeitados.
O escalar da crise no Sudão
Esses confrontos aconteceram apenas dois dias depois de o exército ter alertado que o país atravessa uma “situação perigosa” que podia levar a um conflito armado, após mobilizações de unidades do RSF na capital sudanesa e em outras cidades, sem o consentimento ou coordenação das forças armadas.
As mobilizações ocorreram durante as negociações para se chegar a um acordo político que colocaria fim à revolta de 2021. A assinatura do pacto já foi adiada duas vezes devido às tensões entre o exército e as RSF.
As RSF emergiram das milícias Janjaweed, acusadas de cometer crimes contra a humanidade durante o conflito de Darfur (2003-2008), segundo a agência de notícias EFE.
Neste contexto de violência, três funcionários das Nações Unidas no Sudão morreram na conturbada região de Darfur, em meio aos confrontos entre o Exército e as forças paramilitares, conforme informou no domingo o chefe da missão da ONU no país, Volker Perthes.
“Três funcionários do Programa Alimentar Mundial (PAM), morreram nos confrontos que eclodiram em Kabkabiya, Darfur do Norte”, afirmou Perthes, em comunicado.
Ele também expressou “extrema preocupação” com “relatos de projéteis que atingiram as instalações da ONU” durante os combates.
Os funcionários do PAM foram mortos perto do Chade, que fechou a fronteira com o Sudão por causa da violência. Perthes informou que “edifícios [dos serviços] humanitários foram atingidos e outros pilhados em Darfur”, um bastião histórico das Forças de Apoio Rápido (RSF).
Em resposta à situação, o Programa Alimentar da ONU anunciou a suspensão temporária das operações em áreas afetadas pelos confrontos em Darfur do Norte. A organização ressaltou que essa medida dificulta a distribuição de ajuda humanitária a centenas de milhares de pessoas que dependem desse apoio.
Além disso, a Missão das Nações Unidas no Sudão (UNITAMS) pede que todas as partes envolvidas nos conflitos no país garantam a segurança dos trabalhadores humanitários e permitam o acesso incondicional à ajuda humanitária.
Os refugiados internos
O aumento da violência no Sudão tem levado a um número crescente de deslocados internos. Muitos civis, temendo novos confrontos e a instabilidade no país, procuram refúgio nas áreas vizinhas e em campos de deslocados internos. A situação humanitária já precária pode deteriorar-se ainda mais se a violência continuar.
Organizações de direitos humanos e entidades internacionais expressam preocupação com a escalada dos confrontos no Sudão e exortam as partes envolvidas a buscarem uma solução pacífica para a crise. A comunidade internacional teme que a situação no país possa se transformar em uma guerra civil prolongada, com consequências devastadoras para a população e a região.
A instabilidade no Sudão, além de afetar diretamente os sudaneses, pode também ter repercussões na região do Corno de África e em outras áreas próximas, gerando um fluxo de refugiados e instabilidade regional.
Diante desse cenário, líderes internacionais e regionais têm apelado por um cessar-fogo imediato e pela retomada das negociações entre as partes em conflito. É fundamental que o Sudão encontre um caminho de volta à estabilidade e à transição para a democracia, de forma a garantir a paz e a prosperidade para seu povo e contribuir para a estabilidade regional.
Reações internacionais e apelos à paz
A comunidade internacional e em particular a China, têm acompanhado de perto os desenvolvimentos no Sudão e apelado a um cessar-fogo imediato e ao retorno ao diálogo político. A União Africana, a União Europeia, os principais Estados Árabes e os Estados Unidos emitiram declarações condenando a violência e pedindo que as partes em conflito resolvam suas diferenças pacificamente.
A China que também acompanha com “grande atenção” a situação no Sudão, exorta as duas partes a “chegarem a um cessar-fogo e evitarem que a situação se agrave”, segundo um comunicado divulgado hoje pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, também expressou a sua preocupação com a situação no Sudão e apelou às partes envolvidas para:
“Cessarem imediatamente todas as hostilidades, protegerem os civis e retomarem o diálogo político inclusivo para resolver a crise”.
A violência em curso no Sudão tem um impacto significativo na população civil, que já enfrenta uma série de desafios, incluindo a pobreza, a falta de infraestruturas básicas e o acesso limitado a serviços de saúde e educação.
A comunidade internacional tem trabalhado para fornecer assistência humanitária essencial às pessoas afetadas pelos confrontos, mas a insegurança e as restrições de acesso dificultam a entrega de ajuda.
Organizações como a Cruz Vermelha Internacional, o Programa Alimentar Mundial e a UNICEF estão no terreno, a prestar apoio aos sudaneses afetados pela violência. No entanto, é necessário um maior esforço coordenado para garantir que a ajuda chegue a todos os que dela necessitam.
Futuro incerto para o Sudão
Para resolver a crise no Sudão, é fundamental encontrar uma solução política que envolva todas as partes interessadas e que aborde as causas subjacentes do conflito. Isso inclui a necessidade de reformas abrangentes nas forças de segurança do país, bem como a implementação de medidas para promover a justiça e a reconciliação.
Um diálogo inclusivo e transparente entre as diferentes facções, partidos políticos, sociedade civil e comunidade internacional é essencial para alcançar um acordo duradouro e sustentável. A liderança sudanesa deve estar disposta a fazer concessões e compromissos necessários para garantir uma transição pacífica para a democracia.
A comunidade internacional tem um papel crucial a desempenhar na resolução da crise no Sudão. Além de fornecer assistência humanitária e apoio técnico, é fundamental que os atores internacionais exerçam pressão sobre as partes em conflito para que cessem as hostilidades e voltem à mesa de negociações.
Países e organizações influentes devem usar sua influência para garantir que os direitos humanos e os princípios democráticos sejam respeitados no Sudão. Além disso, a comunidade internacional deve estar preparada para impor sanções e outras medidas coercitivas, caso as partes envolvidas não cumpram com os acordos alcançados.
Que esperar do Sudão?
Apesar dos desafios e incertezas que o Sudão enfrenta atualmente, é possível vislumbrar um futuro promissor para o país se os líderes políticos e militares estiverem dispostos a colocar os interesses do povo sudanês acima das suas ambições pessoais.
A transição para a democracia pode ser um processo difícil e demorado, mas é essencial para garantir a paz, a justiça e o desenvolvimento sustentável no Sudão. Com o apoio da comunidade internacional e o compromisso das partes envolvidas, o Sudão pode superar seus desafios e emergir como um Estado democrático e próspero.
Para construir um futuro próspero e estável no Sudão, é crucial investir em áreas como educação e saúde. A melhoria do acesso à educação de qualidade e a criação de oportunidades para o desenvolvimento de habilidades podem ajudar a fornecer as bases para o crescimento económico sustentável e a redução da pobreza.
A formação de profissionais de saúde e a expansão do acesso a serviços de saúde adequados são essenciais para garantir o bem-estar da população e a prevenção de doenças.
A comunidade internacional pode desempenhar um papel importante no apoio a projetos e programas destinados a melhorar a educação e a saúde no Sudão, fornecendo recursos financeiros e técnicos, bem como partilhando experiências e boas práticas.
Sustentabilidade
O desenvolvimento económico é outro elemento-chave para garantir um futuro melhor para o Sudão. A diversificação da economia, a promoção do investimento estrangeiro e a criação de empregos são medidas importantes para reduzir a dependência do país das exportações de petróleo e garantir um crescimento sustentável e inclusivo.
A comunidade internacional pode ajudar o Sudão a implementar políticas e estratégias que promovam a sustentabilidade económica e ambiental, bem como incentivar o investimento em setores como energia renovável, agricultura sustentável e infraestruturas resilientes.
A igualdade de género e a inclusão social são fundamentais para o desenvolvimento sustentável e a paz duradoura no Sudão. É importante garantir que as mulheres e os grupos marginalizados participem plenamente na vida política, económica e social do país, e que sejam tomadas medidas para eliminar todas as formas de discriminação e violência.
Os líderes políticos e a comunidade internacional devem trabalhar juntos para promover a igualdade de género e a inclusão social no Sudão, implementando políticas e programas que abordem as desigualdades e garantam a proteção dos direitos de todos os cidadãos.
Conclusão
A crise no Sudão apresenta desafios significativos, mas também oportunidades para um futuro mais promissor.
Através do compromisso das partes envolvidas, do apoio da comunidade internacional e da implementação de medidas abrangentes em áreas como política, educação, saúde, desenvolvimento económico e igualdade de género, o Sudão pode superar os desafios atuais e trilhar o caminho para a paz, a democracia e a prosperidade.
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