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Segunda-feira, Setembro 16, 2024

África Nos Jogos Olímpicos De Verão

O continente africano tem construído uma presença significativa e inspiradora neste palco mundial, no entanto, é notável que até hoje nenhum país africano tenha sediado este grandioso evento.

África Nos Jogos Olímpicos De Verão


Ao longo dos anos, os Jogos Olímpicos, têm observado África, com a sua rica tapeçaria de culturas, histórias e geografias, desempenhar um papel singular e fascinante na sua história.

Desde a primeira participação africana em 1904 até aos dias de hoje, os atletas africanos têm mostrado um desempenho notável, alcançando feitos impressionantes que refletem o talento e a determinação dos seus desportistas.

Desde a sua recriação em 1896, por Pierre de Coubertin, os Jogos Olímpicos têm sido uma arena onde nações de todo o mundo se reúnem para competir, demonstrar excelência atlética e promover a paz e a amizade entre os povos.

O continente africano tem construído uma presença significativa e inspiradora neste palco mundial, no entanto, é notável que até hoje nenhum país africano tenha sediado este grandioso evento.

Esta ausência não diminui a importância e o impacto dos atletas africanos que têm deixado uma marca indelével nos Jogos ao longo das décadas, com quase 400 medalhas conquistadas ao longo de um século, tornando o continente em uma força incontornável no panorama desportivo mundial.

 

Primeiros Passos


A primeira incursão de África nos Jogos Olímpicos foi em 1904, com a participação dos maratonistas sul-africanos Len Tau e Jan Mashiani. A corrida de Len Tau, feita em pés descalços, simbolizou a modéstia dos recursos disponíveis, mas também a determinação e o espírito de resistência dos africanos.

Com o passar dos anos, a presença africana nos Jogos cresceu gradualmente, reflectindo a evolução política e social do continente. Durante a era colonial, a participação era limitada, mas o panorama mudou radicalmente com a onda de independências pós-Segunda Guerra Mundial.

A partir dos Jogos de Melbourne, em 1956, a participação africana tornou-se mais significativa. Naquela edição, a maioria dos países africanos, incluindo aqueles ainda sob o regime de protetorado, enviaram delegações para competir.

Este foi um momento de orgulho e esperança, marcando o início de uma nova era para o desporto africano no panorama mundial. As medalhas conquistadas durante este período não eram apenas símbolos de excelência atlética, mas também de uma identidade em formação, de um continente emergente que procurava o seu lugar no mundo.

A conquista de medalhas por atletas africanos aumentou significativamente nas décadas seguintes. De acordo com a Associação dos Comités Olímpicos Nacionais de África (ACNOA), desde 1956 até à data, África conquistou 440 medalhas.

O Quénia domina o ranking continental com um total de 113 medalhas (35 de ouro, 42 de prata e 36 de bronze), seguida de perto pela África do Sul com 89 medalhas (27 de ouro, 33 de prata, 29 de bronze) e pela Etiópia, famosa pelos seus corredores de longa distância, nomeadamente nos 5.000m, 10.000m e na maratona, completa este trio de topo com 58 medalhas (23 de ouro, 12 de prata, 23 de bronze).

A supremacia do Quénia e da Etiópia no atletismo, particularmente nas corridas de longa distância, tornou-se uma característica distintiva das Olimpíadas, refletindo tanto a aptidão natural dos seus atletas quanto a cultura desportiva enraizada nas suas sociedades.

 

Grandes Figuras


Vários atletas africanos deixaram uma marca indelével nos Jogos Olímpicos, tornando-se lendas não só nos seus países de origem, mas também no panorama mundial. Abebe Bikila, o maratonista etíope que venceu a maratona olímpica de Roma em 1960 correndo descalço, é um desses ícones.

A vitória de Bikila não foi apenas uma demonstração de superioridade atlética, mas também um símbolo poderoso de resistência e dignidade num período de mudanças profundas para África.

Outro nome que ecoa na história olímpica é o queniano Kipchoge Keino. Em 1968, Keino venceu os 1500 metros nos Jogos Olímpicos de México, apesar de ter estado doente e de ter chegado ao estádio a poucos segundos da partida.

A sua determinação e coragem inspiraram gerações de atletas quenianos e estabeleceram um legado de excelência no atletismo de longa distância. A habilidade dos atletas quenianos e etíopes nas corridas de longa distância é frequentemente atribuída às condições geográficas e à cultura desportiva, que valoriza a resistência e a perseverança.

Além dos corredores de longa distância, também outros atletas africanos se destacaram em diversas modalidades.

A África do Sul, por exemplo, conquistou várias medalhas na natação, com atletas como Chad le Clos que venceu Michael Phelps nos 200 metros mariposa nos Jogos de Londres em 2012. Esta vitória foi um momento histórico para a natação africana e uma prova de que o talento africano transcende as disciplinas atléticas tradicionais.

 

Boicotes aos Jogos Olímpicos


Imagem © 1976 DR (20240806) África Nos Jogos Olímpicos De VerãoOs Jogos Olímpicos também serviram como um palco para protestos políticos significativos. Em 1976, 29 países africanos boicotaram as Olimpíadas de Montreal em protesto contra a participação da Nova Zelândia que havia enviado uma equipa de rugby à África do Sul, à altura sobre o regime do apartheid.

Este boicote foi uma declaração poderosa contra o regime segregacionista da África do Sul e demonstrou a solidariedade do continente em questões de justiça e direitos humanos. Durante a Guerra Fria, as tensões políticas também afetaram a participação africana nos Jogos Olímpicos.

Em 1980, vários países africanos aliados dos Estados Unidos boicotaram os Jogos de Moscovo, enquanto em 1984, os aliados da União Soviética retribuíram boicotando os Jogos de Los Angeles. Estes boicotes politicos, tiveram um impacto significativo no desempenho dos atletas africanos, privando-os da oportunidade de competir no palco mais prestigiado do desporto mundial.

Apesar destas interrupções, os Jogos Olímpicos continuaram a ser uma plataforma crucial para África demonstrar o seu talento e potencial.

Em 1988, os países africanos voltaram a participar plenamente nos Jogos de Seul, ignorando os apelos ocidentais para um boicote em apoio à Coreia do Norte. Esta decisão sublinhou a independência e a assertividade crescente dos países africanos nas suas decisões políticas e desportivas.

 

Conquistas Recentes nos Jogos Olímpicos


Nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, a presença africana promete ser mais forte do que nunca. A África do Sul enviou a maior delegação africana, com 149 atletas competindo em várias modalidades, incluindo natação, atletismo, rugby de sete e hóquei em campo.

O Quénia e a Nigéria também enviaram grandes delegações, com 83 e 88 atletas, respectivamente, prontos para competir e trazer medalhas para os seus países. O sucesso dos atletas africanos nas Olimpíadas tem um impacto profundo nas suas nações. As vitórias olímpicas promovem o orgulho nacional e incentivam investimentos em infra-estruturas desportivas e programas de desenvolvimento.

Por exemplo, as medalhas de ouro e bronze conquistadas por Cheick Sallah Cissé e Ruth Gbabgi no taekwondo nos Jogos do Rio de 2016 criaram uma verdadeira emulação em torno do desporto na Costa do Marfim, inspirando uma nova geração de atletas.

Nestes Jogos Olímpicos de Paris 2024, África já deixou a sua marca, destacando se Tatjana Smith (antigamente Schoenmaker), da África do Sul que ganhou a medalha de Ouro aos 100m Bruços e a de prata os 200m bruços, mas o maior feito foi claramente a conquista da primeira medalha de Ouro para África, em ginástica artística ganha pela ginasta argelina Kaylia Nemour.

No entanto, África ainda enfrenta desafios significativos no panorama olímpico. A falta de infra-estruturas adequadas, o financiamento limitado e as questões de saúde continuam a ser obstáculos importantes.

Apesar disso, a determinação e o espírito dos atletas africanos são inabaláveis. A participação africana nos Jogos Olímpicos é uma celebração da diversidade, da capacidade de resistência do continente africano e uma oportunidade para os atletas africanos demonstrarem que podem competir e vencer contra os melhores do mundo.

 

Conclusão


A história dos Jogos Olímpicos está repleta de histórias inspiradoras de atletas africanos que superaram adversidades e deixaram uma marca indelével no panorama desportivo mundial.

Desde os primeiros passos em 1904 até as conquistas modernas, a presença africana nas Olimpíadas é um testemunho da capacidade e do potencial do continente. Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 serão mais uma oportunidade para os atletas africanos brilharem e inspirarem futuras gerações.

As contribuições africanas para os Jogos Olímpicos são vastas e variadas, abrangendo várias disciplinas e destacando-se em eventos de longa distância, natação e outras modalidades.

Apesar dos desafios contínuos, África continua a demonstrar um espírito indomável e uma capacidade de superação que ecoa em todo o mundo. Os Jogos Olímpicos não são apenas uma competição desportiva, são também uma celebração da humanidade e os atletas africanos são uma parte essencial dessa celebração.

 

O que achas da presença africana nos Jogos Olímpicos? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 

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Imagem: © 2024 Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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Francisco Lopes-Santos
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